LIVRO COMPILA OPINIÕES DE NÊUMANNE
PINTO SOBRE LULA
Ranier Bragon
de Brasília
A vida do retirante nordestino e ex-operário que ocupou por
oito anos a Presidência têm sido fonte de farta produção
literária, filão a que se junta agora o recém-lançado
O que sei de Lula (Topbooks), do jornalista e escritor José
Nêumanne Pinto, 60.
Embora o título sugira revelações
memorialistas sobre o biografado, esse não é o foco
do livro, que se destina mais a um compêndio de Nêumanne
– editorialista do Jornal da Tarde e articulista de
O Estado de S. Paulo – sobre o que pensa de Lula.
O retrato que emerge é de um gênio
da política, que alcançou a condição
de mito mediante um pot-pourri de sorte, esperteza, talento comunicador,
pendor para a conciliação, conservadorismo disfarçado
e afinidade com o brasileiro comum. "O Lula é o retrato
do cidadão brasileiro: oportunista, vagabundo, inimigo da
leitura e da educação", disse Nêumanne
em uma das entrevistas de divulgação da obra.
Salvo escassas concessões, o jornalista
sustenta que Lula fez um governo medíocre, "'comprou'
o povo num 'supermensalão'" na área social e
"nunca deixou de conspirar contra as instituições",
em manobras que alçariam o escândalo de Watergate à
condição de "pinto".
Entre os exemplos, defende que o banqueiro Daniel
Dantas sofreu perseguição ilegal da Polícia
Federal por ter caído em desgraça no PT.
Em artigo publicado em janeiro, o colunista da Folha Clóvis
Rossi resumiu o Fla-Flu que domina a produção literária
sobre os anos Lula: "É quase impossível encontrar
(...) narrativa que não seja nem a propaganda descarada daqueles
que a direita chamaria de 'subintelectuais de esquerda' nem a raiva
incontida dos oposicionistas ao presidente e a seu partido".
Nêumanne assegura, entretanto, não
ter abraçado nem a versão "Lula santo" nem
a "Lula demônio". Na obra, cita biografias, entrevistas
do então sindicalista e a memória dos anos em que
foi seu amigo íntimo.
São dessa lavra os relatos sobre uma resistência
de Lula em se envolver com as negociações para a volta
dos exilados e um encontro com enviados da ditadura que trabalhariam
para esvaziar a influência de Leonel Brizola.
Nêumanne também aborda o assassinato
do prefeito Celso Daniel, em 2002. Ele escreve que, no dia em que
o corpo foi encontrado, Aloizio Mercadante afirmou no "JT"
que se tratava de crime passional, a mando do empresário
Sérgio Gomes da Silva, o Sombra. "O prefeito era amante
de Sérgio Gomes da Silva, seu ex-motorista. E foi este quem
mandou matá-lo", disse, segundo o livro.
Por meio de sua assessoria, o hoje ministro negou
ter feito a declaração, classificando-a de "descabida"
e uma "agressão inominável" à memória
de Celso Daniel.
Caderno 2
FOLHA DE S.PAULO
04/09/2011
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