ANTONIO CARLOS SECCHIN
Querido Poeta:
Foi com o maior entusiasmo que li o seu "Desdizer". A grande poesia é sempre grande poesia. Adorei os seus aforismos, a atenção e generosidade com que escreve sobre outros, que também admiro (Pessoa, João Cabral, Ledo Ivo, Vinicius... ), adorei a sua celebração dos elementos (tema que me "diz" muito...) , a enorme cultura literária que subjaz e se lê nas entrelinhas, mas logo se esconde ou submerge para não perturbar o voo, o élan "musical" dos versos ( "variações", "ária de estação"), o perfeito domínio da palavra e da forma, a vagabundagem de quem não se submete a escolas nem a modas, mas segue o seu próprio caminho, guiado por uma força interior.
Poderia salientar alguns poemas que me tocaram de modo especial, como Instruções, Carta aos pais, O galo gago, Disk-morte, Autorretrato, os sonetos (de circunstância ou não), Cintilações do mal, Entre o dentro e o fora, Nas águas se calava a terra, Inventário, Infância, A ilha, Poema do infante... — mas na verdade poderia citar todos os outros, porque o livro, como as exposições retrospectivas , revela um Poeta maiúsculo e com maiúscula.
O nosso encontro em Lisboa foi um marco no meu conhecimento de outros autores, que é uma dos maiores alegrias que nos oferece este nosso ofício de escrever, que toma conta de nós, queiramos ou não...
Termino com uma espécie e aforismo (???) (ou algo parecido, tenho dificuldade em classificar o que escrevo) de "Os Guarda-Chuvas Cintilantes", Diário heterodoxo mal amado em Portugal e muito amado no Brasil, onde comecei a escrevê-lo, quando morava em São Paulo:
Arte poética, ou Epístola aos Pisões
Cortai os pés, Pisões. Cortai verdadeiramente os pés,
e aprendei que a poesia não pisa:
É o modo mais perfeito de voar.
Um enorme abraço, cheio de admiração e carinho
Teolinda Gersão |