CARLOS
HEITOR CONY
Luiz Paulo Horta
RIO DE JANEIRO – Não
dá para entender, embora seja a única
verdade daquilo que chamamos "vida". Nem adianta,
como no caso do acadêmico Luiz Paulo Horta, falecido
subitamente no último sábado, argumentar
com a sua discutível condição de
"imortal", uma piada macabra que acompanha
acadêmicos de várias latitudes.
O fato é que um dos trancos
mais difíceis de suportar é quando um
dos imortais que penetrou em nossa intimidade, sem aviso
prévio nem tardio, paga seu tributo à
fada que nos espera em algum lugar, em algum tempo e
modo, fada que para muitos é considerada uma
bruxa mesmo sem vassoura e nariz adunco, uma fada verde
como o absinto que matou tantos poetas e artistas que
tentaram esquecer a condição mortal de
todos nós, poetas ou não, no ajuste final
e, aqui entre nós, inevitável.
Horta começou a vida tentando
aprender a tocar acordeão. Não era uma
boa promessa, mas ele sabia, ou melhor, intuía,
que o destino dele estava na música, que o levaria
à religião. Bach, Beethoven e Mozart de
um lado, os intelectuais que no fim do século
19 e início do século 20 se voltaram para
a religião, fizeram de Horta o homem que conhecemos
e admiramos.
Nunca resvalou para um proselitismo
que não o agradava, como jornalista, e principalmente
como escritor. Neste ponto, não imitava Jackson
de Figueiredo nem mesmo o mestre Alceu Amoroso Lima,
que tinham alguma coisa de polemistas no panorama de
nossa realidade intelectual.
Antes de ser um servidor de sua religião, e amante
compulsório da música, Horta foi, sobretudo,
um humanista em seu sentido pleno e nunca saciado. Chego
ao atrevimento de considerá-lo uma espécie
de santo que não cheirava a incenso, mas quando
sorria (e sorria sempre), mostrava um pouco que não
era deste mundo.
FOLHA DE S. PAULO
06/08/2013 |