VEJA / blog do Reinaldo Azevedo
SÁBADO, 07/12/2013 - às 18:30
O LIVRO-BOMBA – Tuma Jr. revela os detalhes
do estado policial petista. Partido usa o governo para divulgar
dossiês apócrifos e perseguir adversários. Caso
dos trens em SP estava na lista. Ele tem documentos e quer falar
no Congresso. Mais: diz que Lula foi informante da ditadura, e o
contato era seu pai, então chefe do Dops.
Romeu Tuma Junior conta como funciona o estado policial petista
O “estado policial petista” não
é uma invenção de paranoicos, de antipetistas
militantes, de reacionários que babam na gravata dos privilégios
e que atuam contra os interesses do povo. Não! O “estado
policial petista” reúne as características de
todas as máquinas de perseguição e difamação
do gênero: o grupo que está no poder se apropria dos
aparelhos institucionais de investigação de crimes
e de repressão ao malfeito — que, nas democracias,
estão submetidos aos limites da lei — e os coloca a
seu próprio serviço. A estrutura estatal passa a servir,
então, à perseguição dos adversários.
Querem um exemplo? Vejam o que se passa com a apuração
da eventual formação de cartel na compra de trens
para a CPTM e o metrô em São Paulo. A questão
não só pode como deve ser investigada, mas não
do modo como estão agindo o Cade e a PF, sob o comando de
José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça. As sentenças
condenatórias estão sendo expedidas através
de vazamentos para imprensa. Pior: as mesmas empresas investigadas
em São Paulo se ocuparam das mesmas práticas na relação
com o governo federal. Nesse caso, não há investigação
nenhuma. Escrevi a respeito nesta sexta.
Quando se anuncia que o PT criou um estado policial,
convenham, não se está a dizer nenhuma novidade. Nunca,
no entanto, alguém que conhece por dentro a máquina
do governo havia tido a coragem de vir a público para relatar
em detalhes como funciona o esquema. Romeu Tuma Junior, filho de
Romeu Tuma e secretário nacional de Justiça do governo
Lula entre 2007 e 2010, rompe o silêncio e conta tudo no livro
“Assassinato de Reputações – Um Crime
de Estado”, publicado pela Editora Topbooks (557 págs.,
R$ 69,90). O trabalho resulta de um depoimento prestado ao longo
de dois anos ao jornalista Claudio Tognolli. O que vai ali é
de assustar. Segundo Tuma Junior, a máquina petista:
1. produz e manda investigar dossiês apócrifos
contra adversários políticos;
2. procura proteger os aliados.
O livro tem um teor explosivo sobre o presente
e o passado recente do Brasil, mas também sobre uma história
um pouco mais antiga. O delegado assegura que o sindicalista Luiz
Inácio Lula da Silva — que nunca negou ter uma relação
de amizade com Romeu Tuma — foi informante da ditadura. A
VEJA desta semana traz uma reportagem sobre o livro e uma entrevista
com o ex-secretário nacional da Justiça. Ele estava
lá. Ele viu. Ele tem documentos e diz que está disposto
a falar a respeito no Congresso. O delegado é explícito:
Tarso Genro, então ministro da Justiça, o pressionou
a divulgar dados de dossiês apócrifos contra tucanos.
Mais: diz que a pressão vinha de todo lado, também
da Casa Civil. A titular da pasta era a agora presidente da República,
Dilma Rousseff.
Segue um trecho da reportagem de Robson Bonin
na VEJA desta semana. Volto depois.
(…)
Durante três anos, o delegado de polícia Romeu Tuma
Junior conviveu diariamente com as pressões de comandar essa
estrutura, cuja mais delicada tarefa era coordenar as equipes para
rastrear e recuperar no exterior dinheiro desviado por políticos
e empresários corruptos. Pela natureza de suas atividades,
Tuma ouviu confidências e teve contato com alguns dos segredos
mais bem guardados do país, mas também experimentou
um outro lado do poder — um lado sem escrúpulos, sem
lei, no qual o governo é usado para proteger os amigos e
triturar aqueles considerados inimigos.
(…)
Segundo o ex-secretário, a máquina de moer reputações
seguia um padrão. O Ministério da Justiça recebia
um documento apócrifo, um dossiê ou um informe qualquer
sobre a existência de conta secreta no exterior em nome do
inimigo a ser destruído. A ordem era abrir imediatamente
uma investigação oficial. Depois, alguém dava
urna dica sobre o caso a um jornalista. A divulgação
se encarregava de cumprir o resto da missão. Instado a se
explicar, o ministério confirmava que, de fato, a investigação
existia, mas que era sigilosa e ele não poderia fornecer
os detalhes. O “investigado”, é claro, negava
tudo. Em situações assim, culpados e inocentes sempre
agem da mesma forma. O estrago, porém, já estará
feito.
No livro, o autor apresenta documentos inéditos
de alguns casos emblemáticos desse modus operandi que ele
reuniu para comprovar a existência de uma “fábrica
de dossiês” no coração do Ministério
da Justiça. Uma das primeiras vítimas dessa engrenagem
foi o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Senador
época dos fatos, Perillo entrou na mira do petismo quando
revelou a imprensa que tinha avisado Lula da existência do
mensalão. 0 autor conta que em 2010 o então ministro
da Justiça, Luiz Paulo Barreto, entregou em suas mãos
um dossiê apócrifo sobre contas no exterior do tucano.
As ordens eram expressas: Tuma deveria abrir urna investigação
formal. 0 trabalho contra Perillo, revela o autor, havia sido encomendado
por Gilberto Carvalho, então chefe de gabinete do presidente
Lula. Contrariado, Tuma Junior refutou a “missão”
e ainda denunciou o caso ao Senado. Esse ato, diz o livro, foi o
primeiro passo do autor para o cadafalso no governo, mas não
impediu novas investidas.
Celso Daniel, trens, mensalão…
Vejam o que vai acima em destaque. Qualquer semelhança
com os casos Alstom e Siemens, em São Paulo, não é
mera coincidência. O livro traz revelações perturbadoras
sobre:
a: o caso do cartel de trens em São Paulo
b: o dossiê para incriminar Perillo;
c: o dossiê para incriminar Tasso Jereissati (com pressão
de Aloizio Mercadante);
d: a armação para manchar a reputação
de Ruth Cardozo;
e: o assassinato do petista Celso Daniel, prefeito de Santo André;
f: o grampo no STF (todos os ministros foram grampeados, diz Tuma
Junior);
g: a conta do mensalão nas Ilhas Cayman…
E muito mais. Tuma Júnior está
com documentos. Tuma Junior quer falar no Congresso. Tuma Junior
tem de ser ouvido. Abaixo, seguem trechos de sua entrevista à
VEJA.
(…)
Por que “Assassinato de Reputações”?
Durante todo o tempo em que estive na Secretaria
Nacional de Justiça, recebi ordens para produzir e esquentar
dossiês contra uma lista inteira de adversários do
governo. 0 PT do Lula age assim. Persegue seus inimigos da maneira
mais sórdida. Mas sempre me recusei. (…) Havia uma
fábrica de dossiês no governo. Sempre refutei essa
prática e mandei apurar a origem de todos os dossiês
fajutos que chegaram até mim. Por causa disso, virei vítima
dessa mesma máquina de difamação. Assassinaram
minha reputação. Mas eu sempre digo: não se
vira uma página em branco na vida. Meu bem mais valioso é
a minha honra.
De onde vinham as ordens para atacar os adversários
do PT?
Do Palácio do Planalto, da Casa Civil,
do próprio Ministério da Justiça… No
livro, conto tudo isso em detalhes, com nomes, datas e documentos.
Recebi dossiês de parlamentares, de ministros e assessores
petistas que hoje são figuras importantes no atual governo.
Conto isso para revelar o motivo de terem me tirado da função,
por meio de ataque cerrado a minha reputação, o que
foi feito de forma sórdida. Tudo apenas porque não
concordei com o modus operandi petista e mandei apurar o que de
irregular e ilegal encontrei.
(…)
O Cade era um dos instrumentos da fábrica de dossiês?
Conto isso no livro em detalhes. Desde 2008,
o PT queria que eu vazasse os documentos enviados pela Suíça
para atingir os tucanos na eleição municipal. O ministro
da Justiça, Tarso Genro, me pressionava pessoalmente para
deixar isso vazar para a imprensa. Deputados petistas também
queriam ver os dados na mídia. Não dei os nomes no
livro porque quero ver se eles vão ter coragem de negar.
O senhor é afirmativo quando fala do
caso Celso Daniel. Diz que militantes do partido estão envolvidos
no crime.
Aquilo foi um crime de encomenda. Não
tenho nenhuma dúvida. Os empresários que pagavam propina
ao PT em Santo André e não queriam matar, mas assumiram
claramente esse risco. Era para ser um sequestro, mas virou homicídio.
(…)
O senhor também diz no livro que descobriu a conta do
mensalão no exterior.
Eu descobri a conta do mensalão nas Ilhas
Cayman, mas o governo e a Polícia Federal não quiseram
investigar. Quando entrei no DRCI, encontrei engavetado um pedido
de cooperação internacional do governo brasileiro
às Ilhas Cayman para apurar a existência de uma conta
do José Dirceu no Caribe. Nesse pedido, o governo solicitava
informações sobre a conta não para investigar
o mensalão, mas para provar que o Dirceu tinha sido vítima
de calúnia, porque a VEJA tinha publicado uma lista do Daniel
Dantas com contas dos petistas no exterior. O que o governo não
esperava é que Cayman respondesse confirmando a possibilidade
de existência da conta. Quer dizer: a autoridade de Cayman
fala que está disposta a cooperar e aí o governo brasileiro
recua? É um absurdo.
(…)
O senhor afirma no livro que o ex-presidente Lula foi informante
da ditadura. É uma acusação muito grave.
Não considero uma acusação.
Quero deixar isso bem claro. O que conto no livro é o que
vivi no Dops. Eu era investigador subordinado ao meu pai e vivi
tudo isso. Eu e o Lula vivemos juntos esse momento. Ninguém
me contou. Eu vi o Lula dormir no sofá da sala do meu pai.
Presenciei tudo. Conto esses fatos agora até para demonstrar
que a confiança que o presidente tinha em mim no governo,
quando me nomeou secretário nacional de Justiça, não
vinha do nada. Era de muito tempo. 0 Lula era informante do meu
pai no Dops (veja o quadro ao lado).
O senhor tem provas disso?
Não excluo a possibilidade de algum relatório
do Dops da época registrar informações atribuídas
a um certo informante de codinome Barba.
Encerro
Encerro por ora. É claro que ainda voltarei ao tema. Tuma
Junior estava lá dentro. Tuma Junior viu e ouviu. O deputado
Ronaldo Caiado (DEM-GO) quer que o delegado preste depoimento à
Câmara sobre o que sabe.
O estado policial petista tem de parar. E
parte da imprensa precisa deixar de ser o seu braço operativo.
Por Reinaldo Azevedo
Segunda-feira, 09/12/2013, às 06:23
A “Comissão da Verdade”
vai apurar se Lula colaborou com a ditadura? Ou ainda: e agora,
José Eduardo Cardozo? A denúncia de Tuma Júnior
não é nem anônima nem apócrifa. O ministro
vai ou não mandar investigar?
Lula é carregado pelos companheiros em 1979: segundo
Tuma Junior, o "Barba" era informante de Romeu Tuma
Os petistas e a rede petralha na Internet tentam
reagir ao livro “Assassinato de Reputações –
Um Crime de Estado” (Editora Topbooks), que traz o longo depoimento
do delegado Romeu Tuma Junior ao jornalista Claudio Tognolli. A
ordem que emana da cúpula do partido e chega à Al
Qaeda Eletrônica é desmoralizar o denunciante, lembrando
que ele foi acusado de envolvimento com a máfia chinesa em
São Paulo. Já chego lá. Há duas coisas
no livro que incomodam os petistas: uma tem um peso, digamos, moral
e pode contribuir para jogar ainda mais luzes nas origens do PT.
A outra tem a ver com o presente e revela o modo como o PT entende
o exercício do poder.
No livro, Tuma Junior diz ter a convicção
de que Luiz Inácio Lula da Silva foi um informante de Romeu
Tuma, então chefe do Dops, lá no fim dos anos 1970,
quando apenas líder sindical. Não é a primeira
vez que a, como vamos chamar?, intimidade de petista com o regime
militar é posta em debate. O delegado sugere que a colaboração
tenha deixado rastro e dá uma dica: que se procurem as contribuições
de um certo “Barba” com os órgãos de repressão.
A esta altura, ninguém com um mínimo de honestidade
intelectual pode ignorar que parte considerável do establishment
militar via com bons olhos a emergência política do
tal “sindicalista” porque avaliava — e com razão
neste particular — que sua ascensão enfraqueceria os
líderes pré-64 que voltaram ao Brasil com a aprovação
da Lei da Anistia. Nesse sentido, a escrita se cumpriu. O petismo
exilou Leonel Brizola no Rio de Janeiro e Miguel Arraes em Pernambuco.
É inegável que Lula cumpriu o desígnio de quebrar
as pernas dos antigos líderes populistas, que encontraram
um novo Brasil ao voltar ao país.
O Lula “colaboracionista”, pois,
é um dado da própria equação. Ainda
que seus propósitos fossem os mais, digamos, puros —
criar um partido só de trabalhadores —, a verdade inegável
é que sua liderança rompia duas pretensões
de unidade: a) a unidade da oposição defendida pelo
MDB; b) a unidade das esquerdas, que Brizola tinha a ambição
de liderar. E aquilo era música para os estrategistas da
transição, especialmente o general Golbery do Couto
e Silva. Eu era um fedelho, militante da Convergência Socialista,
e me lembro bem como a extrema esquerda lia, então, a questão:
a: Lula era considerado um nosso aliado contra a “frente burguesa”
que pretendia se apresentar como “falsa alternativa”
(era o que achávamos então) ao regime;
b: Lula era considerado um nosso aliado contra a “falsa esquerda”,
que considerávamos não marxista (e era mesmo!), que
vinha do exílio com pretensões de liderar as massas,
o que repudiávamos;
c: Lula era considerado um nosso aliado APENAS ESTRATÉGICO,
já que julgávamos que ele não passava de um
reformista, com sérios “desvios de direita”,
interessado apenas em reformar o capitalismo;
d: a extrema esquerda entendia que fortalecer Lula era importante,
para que pudesse ser descartado mais tarde.
Bem, meninos, é desnecessário dizer
que Lula jantou os militares, o MDB, Brizola, Arraes e a extrema
esquerda… Reproduziu na política a sua carreira no
sindicato, conforme demonstrou José Nêumanne Pinto
no livro “O que sei de Lula”. Também ali se acercou
do poder pelas beiradas, fez acordos com os pragmáticos,
tomou o poder e deu um pé no traseiro das velhas lideranças.
Foi além
Tuma Junior, na entrevista concedida à VEJA na edição
desta semana e, consta, no livro (ainda não li), sugere muito
mais do que uma colaboração mediada pela história.
Ele fala é de outra coisa: é de ação
coordenada com o regime, combinada mesmo. Cumpre investigar, não
como quem procura um crime, mas como quem busca a verdade. Eu já
ouvi de um ex-alto executivo da Villares e de um ex-membro do então
chamado “Grupo 14”, da Fiesp, que o então grande
sindicalista e herói das massas e da imprensa negociava com
os patrões até as propostas que seriam recusadas.
Fazia parte do show.
Bem, o Brasil tem uma “Comissão
da Verdade”, não é mesmo? Que tal chamar o “companheiro”
para depor — depois, claro, de uma minuciosa investigação
dos arquivos?
De volta ao presente
Se Lula foi ou não uma espécie de dedo-duro a serviço
da ditadura é matéria de interesse histórico.
A questão pode doer na reputação do petismo,
mas não se tem muito além disso. O outro pilar do
livro de Tuma Júnior é, sim, muito grave. O delegado
diz estar disposto a demonstrar que, na Secretaria Nacional da Justiça,
foi instado a dar curso a dossiês fabricados pelo petismo
contra seus adversários. E cita uma penca de casos (leia
post). Mais: assim como perseguia adversários, protegia o
PT ao não dar curso a investigações que poderiam
comprometer o partido.
A Al Qaeda eletrônica, a rede petralha,
já começou o trabalho de desqualificação
do denunciante. Alguns bobinhos enviaram mensagens para cá
apontando que eu mesmo publiquei posts sobre a demissão de
delegado, por conta da sua suposta ligação com a tal
máfia chinesa… Sim, publiquei. E daí? Pra começo
de conversa, foi Lula quem decidiu nomear Tuma Junior para a Secretaria
Nacional de Justiça. Não fui eu, não foram
os opositores do PT, não foram os inimigos do partido. Justamente
porque não tenho nenhuma vinculação com o delegado,
publico o que penso ser relevante. Antes e agora.
E me parece relevante que alguém escolhido
pelo próprio PT para um cargo tão importante venha
a público revelar as muitas vezes em que foi instado a desrespeitar
a lei para atender a uma demanda política — coisa que
ele diz não ter feito. Quer dizer que Tuma Junior é
um desclassificado, alguém a ser ignorado, mas era bom o
bastante para permanecer três anos à frente da Secretaria
Nacional de Justiça?
O fedor do estado policial - Na Câmara, ele disse que manda investigar
tudo. E agora? Denúncia, desta vez, tem assinatura
Não há como: alguém com
nome e endereço, que esteve na cúpula do Ministério
da Justiça, acusa uma ação coordenada de um
partido com órgãos do estado para perseguir adversários
políticos. Nos depoimentos dados ao Senado e à Câmara,
Jose Eduardo Cardozo afirmou que seu papel é encaminhar as
denúncias que recebe, mesmo as anônimas, à Polícia
Federal. Pois bem: a acusação de agora anônima
não é. Tem assinatura. E Tuma Junior já disse
que quer falar.
E nesse caso? O que fará o ministro da
Justiça? Cumpre lembrar que, na lista dos dossiês que
os petistas queriam pôr para circular, está justamente
a suposta formação de cartel para a compra de trens
em São Paulo. Se papeluchos sem assinatura, supostamente
deixados na casa de Cardozo por um deputado do PT, bastam para que
a PF passe a fazer uma investigação, como agirá
o ministro com acusações que têm assinatura?
Os petistas acham que Tuma Junior não
é de confiança? Não é da confiança
de quem, cara-pálida? De Lula e da cúpula do Ministério
da Justiça, pelo visto, ele era. Tanto que foi nomeado para
o cargo de secretário nacional da Justiça. Agora,
ele decidiu contar o que diz ter visto, ouvido e vivido. E afirma
ter como provar as acusações que faz. O mínimo
que se pode esperar é que seja convocado para depor na Câmara.
Acusando a imprensa de não dar a devida
atenção à questão do cartel de trens
— é mentira, como se sabe —, afirmou Gilberto
Carvalho: “Tirando o (jornal) O Estado
de S. Paulo, não se pergunta pelo crime, se recrimina o acusador”.
Muito bem: por que a rede petralha não segue o conselho de
Carvalho? Ora, pare de ficar recriminando o acusador e passe a se
preocupar com os crimes que ele aponta. Tuma Junior, diga-se, mira
também no próprio Carvalho, que lhe teria confessado
que havia mesmo um esquema de desvio de dinheiro em Santo André,
questão que estaria na raiz do assassinato de Celso Daniel.
O ministro diz que vai processar o delegado.
Tuma Junior não era só um datilógrafo
do Ministério da Justiça que agora diz ter ouvido
coisas. Não! Ele ocupava um cargo central na pasta e afirma
ser testemunha da forma como atua a máquina petista de moer
a reputação dos adversários, seguindo aquela
que, há muito tempo, digo ser a máxima do partido:
“Aos amigos, tudo, menos a lei; aos inimigos, nada, nem a
lei”.
Texto publicado originalmente às 2h13
Por Reinaldo Azevedo
TERÇA-FEIRA, 10/12/2013 - às 6:23
Tuma Jr. nasceu em 1960, não em 1963,
e já era policial em 1980, ano em que Lula foi preso; em
foto, ele aparece escoltando o petista no Dops. Ou: Quanto ao denunciante,
vamos aos fatos. Só aos fatos
Comecei a receber uma enxurrada de comentários — não
de comentaristas; já explico — cobrando-me por tudo
o que já publiquei neste blog sobre o delegado Romeu Tuma
Junior. Os preclaros estariam apontando a minha suposta incoerência.
Ai, ai… Só sou imodesto numa coisa: tenho a melhor
memória que conheço. Sei muito bem o que publiquei.
E até farei um pequeno mea-culpa, mas não aquele que
os petralhas esperam. Ah, sim: por que é “enxurrada
de comentários, não de comentaristas”? Porque
chegam grupos de 10, 15, 20 postagens com o mesmo IP. Vale dizer:
é a mesma meia dúzia de petralhas assumindo identidades
diferentes: ora entram como asnos, ora como zebras, ora como antas…
Que coisa chata! Não façam isso! O procedimento funciona
naqueles blogs financiados por estatais. Aqui não! Há
mecanismos para identificar picaretagem. Mas isso tudo é
o de menos. Atenção para os fatos:
1 – Tuma Junior não nasceu
no dia 4 de outubro de 1963, como informa a Wikipedia, mas no dia
13 de agosto de 1960. Assim, em 1980, quando Lula foi preso, ele
tinha 20 anos. Quem nasceu em 4 de outubro foi seu pai, Romeu Tuma;
2 – assim, em 1980, quando Lula foi preso, Tuma Junior tinha
20 anos e estava na Polícia havia dois. Ele prestou o concurso
para investigador IP1/78 (o “78” é o ano);
3 – acalmem-se os mais ansiosos: quando o livro chegar às
mãos dos leitores, há lá uma foto de Tuma Junior
escoltando Lula no Dops.
4 – Tuma Junior se aposentou na Polícia neste ano,
com 35 anos de serviço: 2013 – 35 = 1978.
Por que isso ganhou relevância? O delegado
— que escreveu o livro “Assassinato de Reputações
– Um Crime de Estado” — diz que Lula foi,
na verdade, um informante de seu pai, Romeu Tuma, então chefe
do Dops. Estão alegando por aí que ele não
teria como saber disso porque, supostamente nascido em 1963, não
teria nem feito 17 anos à época e não poderia
estar na Polícia. Bem, em primeiro lugar, convenham, dá
para saber muita coisa com essa idade e mesmo fora do aparelho policial.
Ocorre que Tuma Junior tinha 20 e já havia prestado concurso
e sido aprovado. Pois é…
Antes mesmo que se conheçam mais detalhes
do livro, começou o trabalho de desqualificação
do denunciante, uma prática que o ministro Gilberto Carvalho
diz ser muito feia. Feíssima. Segundo ele, é preciso
que se preste atenção ao que está sendo denunciado.
Como Carvalho diz ser essa uma regra válida para os adversários
do PT, suponho que também valha para o petismo.
Sim, noticiei algumas coisas sobre Tuma Junior
no clipping e escrevi textos. Como sabe o delegado, eu não
ganhava nada nem antes nem agora. Costumo ter o mau hábito
de tratar aqui do que é notícia. É claro que
a “ética” dos que estão a serviço
do petralhismo é outra: antes, quando não recebiam
de estatais, eram todos inimigos do partido; agora, viraram lulo-petistas
fanáticos.
Essa gritaria é só cortina de fumaça
para tentar impedir a apuração das denúncias.
Quanto a Tuma Junior, cabe-me, sim, um mea-culpa — mas não
só a mim. Talvez fosse conveniente que a totalidade da imprensa
o fizesse no caso. Por quê? Prestem atenção:
FATO UM – A Comissão de Ética
Pública da Presidência da República concluiu
que nada havia contra ele (veja documento);
FATO DOIS – A sindicância
feita pelo Ministério da Justiça concluiu que nada
havia contra ele (veja documento);
FATO TRÊS – Inquéritos
da PF — houve mais de um pelo mesmo fato — foram arquivados
sem resultar em indiciamento. E olhem que ele já era um maldito;
FATO QUATRO – O Ministério
Público nunca ofereceu denúncia sobre nada;
FATO CINCO – Uma acusação
de improbidade administrativa por conta de uma apreensão
de dólares no aeroporto de Cumbica foi arquivada pelo Ministério
Público por falta de evidência de que se tivesse cometido
algum crime.
Qual é o mea-culpa? Eu explico. Nem eu
e, até onde sei, quase ninguém (e escrevo o “quase”
para a hipótese de que alguém o tenha feito) noticiamos
os FATOS — apenas fatos — que eram favoráveis
a ele. Vejam aqui o que diz a Comissão de Ética Pública.
Agora vejam o resultado da sindicância do Ministério
da Justiça.
Estão querendo debater lateralidades.
A questão central é outra. Tuma Junior está
denunciando uma máquina incrustada no aparelho estatal para
produzir dossiês contra adversários políticos.
O ministro José Eduardo Cardozo não tem saída.
Tão logo compre o seu exemplar na livraria, está obrigado
a enviar o material para a Polícia Federal e cobrar: “Investigue-se
tudo!”. Se ele faz isso com denúncia anônima,
por que não o faria com aquela que vem com assinatura? Mais:
Tuma Junior aceita falar às instâncias pertinentes
do Congresso.
Por que o pânico?
Parece haver certo pânico no petismo com
essa história. Que o partido sempre recorreu a práticas
policialescas para perseguir adversários, convenham, não
é novidade. Quem não se lembra do dossiê dos
aloprados, por exemplo? Ocorre que Tuma Junior acusa em seu livro
algo bem mais grave: trata-se da mobilização da máquina
do estado para perseguir adversários, que é rigorosamente
o que se faz nos chamados estados bolivarianos: criminaliza-se a
divergência para que a perseguição política
passe como um caso de polícia.
Finalmente:
1: não fui eu quem nomeou Tuma Junior secretário nacional
de Justiça; foi Lula!
2: não fui eu quem disse que ele nada devia quanto à
questão ética: foi a comissão do governo…
Lula!
3: não fui eu quem atestou a sua idoneidade, mas o Ministério
da Justiça do governo… Lula!
O que estão a sugerir os paus-mandados
no petismo, financiados por estatais? Que não se deve confiar
em Lula, na Comissão de Ética de Lula e no Ministério
da Justiça de Lula?
Texto publicado originalmente às 2h04
Por Reinaldo Azevedo
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