BRIGGFLATTS
A obra de Basil Bunting e, em especial, seu poema-síntese, seu poema-ápice, tiveram um efeito lento, subterrâneo, mas cada vez mais decisivo e longe de concluído, na produção poética de seu país e língua. O melhor livro sobre a poesia britânica recente, de autoria do crítico e poeta Donald Davie, chama-se justamente Under Briggflatts. Alguns contatos seletos com a poesia estrangeira e, em certos casos, a materialização desses contatos em traduções de primeira mudaram diversas vezes o rumo e, até certo ponto, a natureza da poesia escrita em português dos dois lados do mar-oceano. Isso aconteceu quase meio milênio atrás, quando Sá de Miranda e Camões descobriram Petrarca e a poesia italiana em geral, quando os poetas brasileiros leram Baudelaire e os simbolistas franceses, e quando nossas distintas gerações modernistas descobriram os modernismos francês e anglo-americano. Basil Bunting é mais do que um poeta que se lê com prazer e satisfação: ele é um modelo cujo exemplo, se assimilado, pode melhorar a produção poética. A tradução de Felipe Fortuna, condizentemente, é mais do que uma boa tradução: é um verdadeiro manual de poética, uma espécie de defesa e ilustração do que a poesia brasileira pode vir a ser se seu exemplo for diligentemente estudado e inteligentemente seguido.
Trecho da apresentação de Nelson Ascher a Briggflatts
A qualidade de conversação do verso de Basil Bunting em “Briggflatts” (...) é de fato constante. Nós não estamos casualmente ouvindo as ruminações de um solitário falando para si mesmo, como frequentemente acontece quando lemos George Oppen ou muitas das páginas d’Os cantos de Pound. Para Bunting, a poesia – a sua escrita e a sua leitura – ainda é um negócio sociável, embora a sociedade contemplada seja difícil de encontrar e possa ser considerada ideal. Por exemplo, o poeta que se concebe a si mesmo como um homem falando aos homens refletirá que os homens normalmente esperam ser abordados por sentenças; e assim Bunting, apesar de condensar de modo extenuante as suas sentenças, nunca abandona a estrutura sujeito-verbo-objeto (...). Isso coloca Bunting à parte de outros modernistas, num grau que os cronistas admiradores do modernismo ainda precisam reconhecer.
Donald Davie, Under Briggflatts(1989)
“Briggflatts” é um dos poucos grandes poemas deste século. Parece-me mais assim cada vez que o leio.
Thom Gunn
Seus poemas são os mais importantes que apareceram em qualquer forma da língua inglesa desde The waste land, de T. S. Eliot.
Hugh MacDiarmid
O melhor poema longo publicado na Inglaterra desde Four quartets, de T. S. Eliot.
Cyrill Connolly
Basil Bunting é um dos mestres da era da invenção poética juntamente com Pound e [William Carlos] Williams. (...) Ele permanece para mim o mais alerta conhecedor da prosódia na Inglaterra. Quero dizer, o melhor poeta vivo, entre os caras mais velhos.
Allen Ginsberg |