A CASA NO BRASIL
Prepare-se para uma viagem completa: da oca tupi ao eco como imperativo; da taipa de mão do pobre colonial à taipa de pilão dos engenhos; do mocambo do caboclo isolado ao aglomerado de Minha Casa Minha Vida; da proximidade sem intimidade das casas geminadas urbanas dos primeiros séculos coloniais ao cemitério social dos condomínios fechados anunciados no mercado.
Tudo interligado por uma narrativa fluente, com toques pessoais. Que cria muito mais que um ensaio, porque vai construindo, tijolo por tijolo, do Amazonas ao Rio Grande do Sul, do puteiro ao convento, do mato à favela, do cortiço ao palácio, dos milênios passados ao amanhã, a tessitura funda da vida brasileira – a vida em casa, a vida no que interessa.
Nesse trilho atraente vão sendo apresentadas, com profundidade mas sem chateação, as grandes tendências intelectuais, o pensamento sobre o morar no Brasil. Sim, existe erudição, existe interpretação. Mas empregadas de um modo muito original: no que tem de essencial no conteúdo, nunca nos aspectos meramente formais.
Assim o leitor vai se apossando de um tesouro. Uma fonte unificada que resume num todo o que o conhecimento atual separa em disciplinas específicas. Uma síntese, em tempo de análises. Prazer de ler, no lugar da linguagem codificada exegética.
A Casa no Brasil é daquelas obras que só um autor maduro pode produzir. Antonio Risério, com sua larga produção intelectual em diversos campos e uma vida plena de experiências profissionais em múltiplas áreas, seu morar em muitos cantos do país, juntou o estofo necessário para encarar a tarefa de apresentar um trabalho desse porte.
Ganha – e muito – o leitor. Caso tenha de escolher apenas um livro para conhecer muito do que é este país, aqui está uma boa indicação.
JORGE CALDEIRA
LIVRO DE GRANDE FORÇA ESTIMULADORA
Risério, um especialista em sócio-antropologia com alma (e experiência) de poeta, atravessa mundos para chegar à casa. Traz Maiakovski e Guilherme Wisnik, Mondrian e Machado de Assis, Eliot e Eduardo Viveiros; alfineta Heidegger e situa Lima Barreto; anota a presença de Hollywood em nossa arquitetura e desanca as ações dos últimos anos de governo petista relativas à habitação; põe o leitor diante de caminhos cruzados que intrigam e maravilham a inteligência. E não o abandona antes de passar em revista as tensões atuais: entre o MTST e os programas oficiais; entre a opção verticalizante e a horizontalizante do desenvolvimento das cidades; entre a ação de Goethe e o rouxinol de Heine. Uma exuberância de erudição e ousadias, este livro excita mais a cada capítulo. E enriquece na mente de quem o lê a visão sobre o morar.
CAETANO VELOSO |