VÁ A LISBOA
ELZA MARIA viu Lisboa pela primeira vez numa manhã de maio, com o casario entre azul, rosa e dourado, a subir serenamente a colina. Ela estava em meu colo, e, com Verinha, sua mãe, sentíamos o odor do cais e a alegria da chegada.
Ficamos três anos em Lisboa, durante os quais Elza Maria nos intimava, quase todos os fins de semana, a visitar castelos, sempre a pressentir que num deles encontraríamos uma princesa à nossa espera. Das diferentes ocasiões em que, mais tarde, estivemos juntos, ela já adolescente ou adulta, em terras portuguesas, guardei a impressão de que, mal de um cenário se apartava, Elza Maria o desenhava na alma.
Acompanhei-a, depois, no enamorar-se pelas cidades onde viveu, de cujas ruas e edifícios parece conhecer os segredos de dona, e compartilho a admiração carinhosa que devota a cidadezinhas de província. A menina de quase dois anos que viu do meu colo, pela primeira vez, a cidade de Lisboa, aprendeu em Lisboa a ver cidades. E a mostrar e ensinar cidades.
Poucos tiveram o privilégio de caminhar com ela por Roma e ser levados a uma pequena igreja, que, com sua beleza escondida no fundo de um beco, quase ninguém conhece. E poucos experimentaram, em Chicago, a emoção de demorar-se em sua companhia no vestíbulo de um prédio de Louis Sullivan, pelo qual os outros passam desatentos. E não foram muitos os que contaram com ela, em voz e gesto, para percorrer as calçadas, praças e mirantes de Lisboa.
Não se pode esperar receber esse prêmio – ou, melhor, essa graça – ao tomar o avião para Portugal. Mas pode-se levar na bolsa de mão este pequeno livro, no qual Elza Maria traçou os roteiros que considera imperdíveis numa visita curta a Lisboa, e que, numa estada mais demorada, devem ser percorridos muitas vezes.
É um guia de Lisboa para principiantes: um catecismo para quem a visita pela primeira vez. E é também um breviário, para os que desejam revê-la com cuidados de amor.
ALBERTO DA COSTA E SILVA
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