CONFERÊNCIAS DO DR. SMITH SOBRE RETÓRICA
E BELAS-ARTES
Descobertas em 1958 por John M. Lothian, professor
da Universidade de Aberdeen, as Notas das conferências
do Dr. Smith sobre retórica e belas-letras consistem
na transcrição manuscrita, em dois volumes, feita
por uma dupla de alunos, das aulas que Adam Smith (1723-1790) proferiu
na Universidade de Glasgow, em 1762-63. São 29 conferências
sobre oratória, eloqüência e os diferentes tipos
e características de estilo, nas quais o autor investiga
as “diversas formas de comunicarmos nossos pensamentos por
meio da palavra”, além de examinar os “princípios
das composições literárias que contribuem para
persuadir e entreter”.
Em 1963, publicou-se a primeira edição:
Conferências sobre retórica e belas-letras, proferidas
na Universidade de Glasgow por Adam Smith, relatadas por um estudante
em 1762-63. Lothian também encontrou notas de palestras
sobre jurisprudência, mas estas só seriam editadas
em 1978. Nas que falam de retórica, Smith estabeleceu fundamentos
para uma análise do estilo baseando-se na classificação
das composições em descritivas e narrativas (ou históricas),
e em divisões como poesia, romance e tragédia, ou
ainda eloqüência demonstrativa, deliberativa e judiciária.
Pouco depois dessas conferências, em 1764,
Smith renunciou ao posto de professor para assumir o lucrativo cargo
de tutor do jovem duque de Buccleuch, com quem fez muitas viagens,
sobretudo à França, onde se aproximou de intelectuais
como Turgot, D’Alembert e François Quesnay. Também
conheceu quase todos os grandes pensadores escoceses e ingleses
de seu tempo, sobretudo após 1776, quando passou uma temporada
em Londres; ali conviveu com Samuel Johnson, James Boswell, Edward
Gibbon e Edmund Burke, entre outros. De 1748 a 1751, Smith já
fizera palestras sobre retórica e belas-letras em Edimburgo,
e nesse período estabeleceu laços com o conterrâneo
David Hume, que influenciou de forma definitiva o desenvolvimento
de suas teorias sobre ética e economia. Os dois mantiveram
contato até a morte de Hume em 1776.
Em 1751, antes de completar 28 anos, Smith foi
nomeado professor de lógica na Universidade de Glasgow, e
no ano seguinte de filosofia moral, que na época compreendia
os campos da teologia natural, ética, jurisprudência,
economia política, filosofia do direito e retórica.
Pleiteada em 1744 por David Hume, esta mesma cadeira lhe fora negada
sob o pretexto de que o autor dos Ensaios morais, políticos
e literários, editados três anos antes, era um
herege e “notório infiel”. As reflexões
então desenvolvidas por Smith resultaram na publicação,
em 1759, da Teoria dos sentimentos morais.
Ainda que relativamente pouco extensa, sua obra
continua a exercer influência. Embora o pensamento econômico
tivesse evoluído até o século XVIII, sobretudo
com os escolásticos, foi Smith quem estabeleceu os seus fundamentos
científicos com o clássico Uma investigação
sobre a natureza e as causas da riqueza das nações
(1776), onde critica as excessivas intervenções do
governo na economia, demonstrando que planejamento demais atrapalha
o crescimento. Mas sua ascendência estendeu-se a todos os
ramos das ciências sociais. Ao estudar o impacto das escolhas
individuais sobre a sociedade, ele provou que o comportamento humano
pode ser objeto de uma investigação científica:
“Os homens voltados para seus próprios interesses são
conduzidos por uma mão invisível... Sem saber e sem
pretender isso, realizam o interesse da sociedade”, afirmou.
Juntamente com Hume e outros filósofos
da época, Smith considera universais e imutáveis os
princípios da natureza humana, a partir dos quais supõe
que as relações sociais e os comportamentos individuais
podem ser explicados e previstos. Nesse sentido foi mais filósofo
social que economista. Quando se observa o contexto de seu pensamento,
e a tentativa que levou a cabo de identificar os princípios
gerais da lei e do governo e de pesquisar as diferentes revoluções
ocorridas em diversos períodos da sociedade, verifica-se
que A riqueza das nações não é
um simples tratado de economia, mas peça de um sistema filosófico
amplo que parte de uma teoria da natureza humana para uma concepção
de organização política e de evolução
histórica.
O escocês Adam Smith é o protótipo
do intelectual iluminista: cultor do progresso; esperançoso,
porém realista; especulativo e ao mesmo tempo prático;
atento não só à sabedoria dos clássicos
mas igualmente aos progressos científicos de seu tempo. Certamente
o primeiro filósofo a conceber a organização
da sociedade no sentido de sua evolução para um maior
bem-estar coletivo, linha de pensamento que no século XIX
desembocará no utilitarismo, em 1778 foi nomeado fiscal de
alfândega em Edimburgo, o que não deixa de ser irônico
para quem defendia o livre comércio.
A única imagem que temos de Adam Smith
está num medalhão onde aparece de perfil, com sobrancelhas
grossas, nariz aquilino e lábio inferior saliente; os contemporâneos
destacam seu sorriso bondoso e tato político, e contam que
era tímido, distraído, e tinha um modo vacilante de
andar. Como professor, ele atraiu estudantes de nações
tão distantes quanto a Rússia, e nos últimos
anos se viu coroado pela admiração de pensadores europeus
e pelo reconhecimento, nos círculos governamentais, da importância
de suas teses para a condução de uma política
econômica prática e democrática. Morreu em 17
de julho de 1790, sem deixar descendentes.
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