CRISTIANISMO E CULTURA CLÁSSICA –
UM ESTUDO DAS IDEIAS E DA AÇÃO, DE AUGUSTO A AGOSTINHO
“Desde que saiu a primeira edição,
em 1940, li este livro diversas vezes, e cada releitura só
fez aumentar a minha convicção da sua importância
para a compreensão não somente da época que
ele aborda como, também, da nossa própria época”,
escreveu o poeta W. H. Auden sobre o livro Cristianismo e cultura
clássica – Um estudo das ideias e da ação,
de Augusto a Agostinho, no jornal The New Republic. Filosofia,
história, teologia, política, pedagogia, economia,
jurisprudência e administração confluem neste
ensaio sobre a cristianização do Império Romano
e a decadência do mundo clássico pagão, no qual
se estabelece um contraste entre vida cotidiana e seus fundamentos
teóricos e simbólicos, entre civilização
e cultura, entre vida e pensamento.
Um clássico da análise filosófica,
religiosa e cultural, esta obra do canadense Charles Norris Cochrane
(1889–1945) aborda uma mudança fundamental no pensamento
e na ação humana ocorrida entre o mundo de Augusto
e Virgílio e o mundo de Teodósio e Santo Agostinho.
A cristandade começou a desenvolver uma compreensão
radicalmente nova da humanidade, e dessa transição
nasceram diversas ideias que fundamentaram o mundo moderno: romanitas
se tornou christianitas. Entre as questões aqui propostas
pelo autor estão: quem ganhou a guerra entre os filósofos
e os teólogos? Atenas conquistou Jerusalém, impondo
a uma cristandade hoje perdida as ideias pagãs e platônicas
clássicas? Ou Jerusalém conquistou Atenas, desmontando
as formas clássicas do pensamento?
Como historiador, Cochrane não se manifesta
sobre a validade essencial das teses cristãs em oposição
às do classicismo; apenas descreve um processo histórico,
dando voz aos principais representantes das duas correntes, de forma
tanto quanto possível imparcial. Discípulo de Colingwood,
ele estudou nas universidades de Toronto e Oxford; após servir
na Europa na Primeira Guerra Mundial, tornou-se professor e, mais
tarde, chefe do Departamento de História Grega e Romana da
Universidade de Toronto, onde desenvolveu pesquisas sobre o pensamento
de Platão e Aristóteles e sua conexão com a
filosofia moderna. Seu primeiro grande ensaio no campo das ideias
foi Tucídides e a Ciência da História
(1929), uma interpretação da obra do historiador grego
à luz da literatura médica no século V a.C.:
aplicando princípios de Hipócrates ao estudo da sociedade,
Tucídides teria sido o primeiro historiador científico,
segundo Cochrane.
Neste ambicioso ensaio, Cristianismo e cultura
clássica, o autor, conciliando clareza e profundidade,
examina o contraste – e, às vezes, o conflito –
entre a cultura da era clássica, com seu empenho em entender
o mundo em termos puramente racionais, e a compreensão radicalmente
nova da realidade desenvolvida e difundida pela cristandade. Ele
estuda em detalhe as diferenças entre as duas visões
de mundo, destacando especialmente as relações entre
Igreja e Estado e o impacto que tiveram o reinado de Constantino
e a difusão do cristianismo na história do Ocidente.
O ponto de partida de suas análises é o império
de César Augusto, com sua pretensão à “eternidade”
como uma expressão final e definitiva da ordem clássica.
A queda de Roma representou também a queda
de um ideal que se acreditava eterno, e a ruína de todo um
sistema de vida fundado no complexo de pensamentos e valores do
classicismo, sintetizado no emblema “humanitas, romanitas”
– a ideia de um mundo que fosse seguro para a civilização,
a convicção de que era possível atingir uma
meta de segurança, paz e liberdade permanentes por meio da
ação política e da submissão à
“virtude e ventura” de um líder político.
Os cristãos denunciaram essa noção com vigor:
a seu ver, o Estado, longe de ser a ferramenta suprema da emancipação
e da perfectibilidade do homem, era, na melhor das hipóteses,
um mal necessário. Para eles, o princípio de entendimento
superior a qualquer coisa existente no mundo clássico estava
em Cristo e nos seus ensinamentos.
Cochrane investiga por dentro o processo do longo
declínio do Império Romano, reconstituindo a substituição
lenta e gradual de seus valores pelo do conjunto de princípios
vitais e cívicos do cristianismo, o que implicou o fim do
domínio de Roma sobre a ordem política do mundo. Em
sua análise, entrelaça, com erudição
e clareza, o desmoronamento do classicismo como agente de coesão
social e política e o crescimento e auge doutrinal do cristianismo,
numa exposição histórica e cultural que recorre,
sobretudo, às obras de dois pensadores: Cícero e Santo
Agostinho.
Da propriedade privada como fundamento do império
e da romanidade ao cristianismo como religião de Estado,
Cristianismo e cultura clássica, que o filósofo
George Parkin Grant qualificou de "o mais importante livro
jamais escrito por um pensador canadense”, aponta e analisa
as causas e mecanismos de declínio de um mundo – o
do Império Romano – e do surgimento de outro –
o do cristianismo feudal. Cochrane reconstitui a árvore genealógica
de toda uma cultura, estabelecendo uma linha que vai de Augusto,
Virgílio, Cícero, Tito Lívio, Salústio
e Juvenal até Plotino, Teodósio, Atanásio e
Santo Agostinho.
Para o cientista político Arthur Kroker,
autor de The Possessed Individual: Technology and the French
Postmodern, Cochrane “está entre os principais
filósofos da civilização, no século
XX”. Em todos os seus textos o interesse dominante é
investigar grandes ideias germinais, que determinam o curso dos
acontecimentos históricos, às quais atribui um papel
tão grande quanto o das forças econômicas e
o das condições geográficas. Ele sempre buscou
um princípio de interpretação do mundo que
fosse claro e inteligível, e, numa época em que a
pesquisa histórica muitas vezes consiste num mero aglomerado
de fatos insignificantes, este livro – publicado pela primeira
vez no Brasil, numa parceria do Liberty Fund com a Topbooks –
pode ser entendido como obra de filosofia e mesmo de teologia, e
não somente como ensaio de história social e política.
Sobre ele escreveu o crítico John Taylor na The Midwest
Book Review de fevereiro de 2004: "(...) Cristianismo
e cultura clássica sobreviveu ao teste do tempo, e permanece
como um pilar de análise religiosa, filosófica e cultural".
OPINIÕES SOBRE O AUTOR:
Charles Norris Cochrane foi o primeiro
pensador canadense a produzir uma contribuição decisiva
para a História da civilização ocidental.
Harold Innis
Cristianismo e cultura clássica, 'magnum opus'
de Cochrane, é o mais importante livro jamais escrito por
um pensador canadense.
George Parkin Grant
Cochrane está entre os principais
filósofos da civilização, no século
XX.
Arthur Kroker
Desde que saiu a primeira edição, em 1940, li
este livro diversas vezes, e cada releitura só fez aumentar
a minha convicção da sua importância para a
compreensão não somente da época que ele aborda,
como também da nossa própria época.
W. H. Auden
Da análise das relações entre Igreja
e Estado, passando pelo estudo do impacto produzido pelo império
de Constantino e a expansão do cristianismo, até a
dissecação técnica de formas de ver o mundo
diametralmente opostas, Cristianismo e cultura clássica
sobreviveu ao teste do tempo, e permanece como um pilar de análise
religiosa, filosófica e cultural.
John Taylor
Este livro de Cochrane consiste em uma das obras mais estimulantes,
informativas, eruditas e surpreendentemente claras sobre a articulação
entre o pensamento e a ação política, no período
crucial e complexo da história do Ocidente que vai do estabelecimento
da Pax Romana de Augusto à constituição da
síntese teológica de Agostinho.
Antonio Cicero
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