EM BUSCA DA NAÇÃO 
            Antonio  Risério é mestre em nos provocar. Convida-nos a  pensar fora dos quadrados em que nos refugiamos. O leitor, para ele, é um  interlocutor interessado em compreender o mundo, disposto a abandonar  preconceitos e esquemas interpretativos pré-concebidos. 
            O eixo desse livro é a demolição de mitos e verdades estabelecidas. O  texto é precioso como escrita, rigor historiográfico e ousadia teórica.  Dispensando afetações acadêmicas, seus capítulos atravessam diversos temas da  história nacional para desaguar num todo concatenado. 
            Risério argumenta que é hora de rever o que se tem dito e escrito  sobre a história brasileira, interpelando as abordagens que execram o que antes  se celebrava e glorificam o que era desconsiderado. Em vez do confronto  dialético com a visão histórica tradicional, com seu triunfalismo personalista,  partiu-se para a “avacalhação sistemática” de tudo. Abriu-se, assim, espaço  para que “só os reacionários pudessem se orgulhar de nossa experiência como  povo e nação”. Os democratas deixaram de defender o que seria seu legado. 
            Este ensaiobusca romper com o “grau absoluto de redundância política” que  atingimos nos últimos tempos. Posicionado com firmeza no campo democrático,  Risério deseja combater o “pessimismo programático” entranhado no identitarismo  e na “ignorância masoquista nacional”. Quer que a esquerda e a centro-esquerda  voltem a abraçar o pensamento crítico, livre e não dogmático. 
            O momento atual é de reimaginar a nação, ultrapassando sua  pulverização em termos identitários. Daí o convite que pulsa no livro:  precisamos rediscutir “as idiotices que fizemos para alcançar tão nítido e  espetacular fracasso”, revendo com serenidade e lucidez a experiência nacional  brasileira. 
            Em Busca da Naçãoé um guia para agirmos reflexivamente na fase  complicada em que estamos, dilacerados entre polarizações sectárias e  assistindo ao avanço agressivo e desinformado do fragmentarismo multicultural. 
             Marco Aurélio Nogueira 
              
            Para  enxergar o futuro, é melhor olhar para trás. E não é qualquer visão a que nos  oferece Antonio Risério. Com conhecimento enciclopédico e fulgurante precisão,  ele interroga a coleção de particularismos culturais que assombra o horizonte  dos que ainda querem compreender o Brasil. Hoje, um Brasil mergulhado em  polarizações sectárias, em fragmentarismos identitários, na ignorância letrada  das academias, nas armadilhas do racialismo, no surgimento de novas censuras e  no dirigismo político das artes, entre outros temas da atualidade. Sem  meias-palavras ou meias-ideias, ele revela que sufocamos numa época em que, por  meio de gentis princípios, o politicamente correto nos levou a negar as  diferenças e a encerrar cada qual num ressentimento doentio. Ao recuar frente  ao pensamento de minorias que conseguem se impor graças à tecnologia e à mídia,  enfrenta-se não a doxa, o pensamento, mas o paradoxo dominante. Risério  demonstra que viver junto não consiste em anular diferenças, mas em aceitá-las  e encarná-las como fruto de uma cultura móvel, múltipla, mestiça, onde a  criatividade sempre teve a última palavra. Com o suporte de vastíssima  erudição, rara coragem intelectual e a força de não se curvar aos modismos, ele  nos oferece uma obra incontornável. Obra que, ao explicar verdades impostas às  quais consentimos com facilidade, fustiga cânones acadêmicos e modelos  políticos. Sua força é irrepreensível.  
          Mary Del  Priore  |