ENSAIOS - UMA ANTOLOGIA
“É mais fácil encontrar
pessoas que saibam governar a si mesmas do que pessoas que saibam
governar os outros”; “Todo indivíduo é
o juiz mais eficaz e responsável de seu próprio benefício”;
“O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe de
forma absoluta”; “A vontade do povo não pode
tornar justo o que é injusto”. As frases são
características do estilo epigramático de Lord Acton
(1834-1902), o “magistrado da História”, considerado
o homem mais culto da Inglaterra vitoriana, e aquele que fez da
defesa da liberdade política uma verdadeira religião.
“A liberdade não é um meio para se atingir um
determinado fim; ela é, em si, o mais elevado objetivo político,
o único que beneficia a todos igualmente”, escreveu.
É a liberdade o tema que unifica esta
antologia de seus ensaios mais representativos, considerados fundadores
de uma tradição liberal no Ocidente, como “História
da Liberdade na Antiguidade” e “História da Liberdade
no Cristianismo”, partes de uma ambiciosa e inacabada História
da Liberdade. Trata-se da mais completa edição
de seus textos já publicada em português – graças
à parceria entre o Liberty Fund e a Topbooks.
Escrevendo sobre os temas mais diversos, Acton
se empenha em demonstrar uma linha evolutiva da liberdade no mundo,
sem que isso comprometa o rigor de seu método histórico.
Ele concilia a pesquisa criteriosa dos arquivos com a necessidade
de uma fundamentação da História no juízo
moral, mesmo quando este contraria as convicções do
próprio historiador. Tal conceito é ilustrado por
suas Reflexões sobre a Revolução Francesa,
conferências proferidas em Cambridge entre 1895 e 1899 –
depois reunidas em livro – que fazem o balanço completo
de uma época. Ao contrário do que Burke fizera um
século antes, o primeiro barão Acton de Aldeham não
condena a Revolução, preferindo apresentar o relato
sistemático, profundo e elegante de seus principais episódios,
mesmo os mais sangrentos, além de uma análise imparcial
da atuação dos governos revolucionários e de
um sumário das visões de Burke, Guizot e Taine. Como
observou Macaulay, “o conhecimento, a experiência e
o ponto de vista de Acton eram característicos da Europa
continental, mas o liberalismo inglês constituía uma
parte importante de sua filosofia”.
John Emerich Edward Dalberg-Acton nasceu em Nápoles
em 10 de janeiro de 1834; aos três anos, com a morte do pai,
herdou uma grande fortuna, e sua família se mudou para a
Inglaterra. Estudou em Oscott e Edimburgo, e aos 16 anos, impedido
de se matricular em Cambridge por ser católico, foi enviado
para Munique, onde completou sua educação sob a orientação
do teólogo e historiador Johann Joseph Ignaz von Döllinger.
Quando começou a se interessar por assuntos políticos,
ele se conscientizou do perigo que representava para a consciência
individual qualquer forma de perseguição, política
ou religiosa. Mais tarde seria nomeado Regius Professor de
História Moderna em Cambridge, onde lecionou de 1895 até
morrer, sete anos depois.
Acton falava fluentemente alemão, francês
e italiano. Homem de interesses cosmopolitas, era defensor vigoroso
da causa liberal dentro do catolicismo e não temia a polêmica:
chegou a contestar o dogma da infalibilidade do papa, entrando em
conflito público com a Igreja, cuja missão, segundo
pregava, era estimular a busca da verdade científica, histórica
e filosófica e promover a liberdade individual. Ingressou
na Casa dos Comuns em 1859 e foi membro da Assembleia Constituinte
irlandesa 10 anos depois. No período de 1858 a 1871, por
sua personalidade, atividades editoriais, artigos e intervenções
públicas, tornou-se um líder do movimento católico
liberal na Inglaterra. Profundamente preocupado com todas as formas
de ameaça à liberdade, atacou os governos centralizadores
e a “tirania da maioria”, bem como os males da burocracia
e do socialismo. Deixou dezenas de milhares de manuscritos, hoje
espalhados em arquivos na França, na Alemanha e na Inglaterra.
Sem qualquer diploma acadêmico regular, recebeu o título
de doutor honorário nas universidades de Munique (1873),
Cambridge (1889) e Oxford (1890).
Esta antologia engloba os textos relacionados
ao seu projeto da História da Liberdade, além
de ensaios sobre a Revolução Puritana, a Revolução
Inglesa e a Revolução Francesa, Edmund Burke e Lord
Macaulay, as colônias e a Guerra Civil Americana. Reúne
os escritos mais conhecidos sobre a História, e ainda os
que abordam a interseção da religião com questões
da moral e da política e a relação entre a
virtude religiosa e a liberdade individual. Inclui também
os ensaios “O massacre de São Bartolomeu”, “A
influência da América” e “Memórias
de Talleyrand”, entre muitos outros.
Nas palavras de Sir Harold Butler, “com
sua erudição vasta e universal, Lord Acton estava
mais equipado do que qualquer outro pensador inglês moderno
a expor a verdadeira natureza de problemas que ainda nos preocupam”,
como a necessidade da criação de mecanismos de controle
da autoridade dos governos, capazes de preservar as liberdades civis
e proteger as minorias. Acton enfatizou a objetividade na busca
da verdade histórica e desempenhou papel fundamental na transformação
da historiografia inglesa em disciplina científica, inspirada
na escola alemã e, ao mesmo tempo, preocupada com o sentido
da História, que reside, segundo ele, na liberdade humana.
Por sua obra e pela influência que exerceu, é um pensador
de suprema importância na tradição do liberalismo
clássico, e suas originais análises da natureza da
liberdade individual e política permanecem atuais.
Frases sobre o autor (contracapa)
Uma fonte inestimável para leitores acadêmicos
– coletânea como essa era necessária há
anos – mas também uma obra que será útil
a todos os leitores preocupados com algumas das ideias seminais
da cultura ocidental moderna.
Edward Norman
Os ensaios de Lord Acton sobre o catolicismo
liberal demonstram a amplitude e o brilho de seu pensamento, bem
como a força de sua atuação como o intelectual
liberal do século XIX.
S. W. Jackson
Aqueles que o encontravam não sabiam se
ficavam mais impressionados com sua fabulosa erudição
ou com sua exaltada posição social. E ele conheceu
pessoalmente a maioria dos principais historiadores da Europa e
da América.
Gertrude Himmelfarb
Acton entendeu corretamente a relação
entre a ordem interior da alma e a ordem externa da nação,
bem como o abismo que separa a liberdade do apetite (libido) de
uma liberdade decidida e fundamentada (voluntas).
Russell Kirk
Lord Acton foi um dos homens mais profundamente
cultos de seu tempo, e certamente será lembrado também
por sua influência sobre outros intelectuais.
Hugh Chisholm
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