ENTRE REESCRITAS E ESBOÇOS
Este livro se ocupa em especial de algumas áreas
dos estudos literários, como as relações entre
escrita e visualidade, a correspondência entre escritores
ou ainda os documentos textuais ligados à elaboração
de obras literárias, material que, aliás, sugeriu
o título. Em certos casos são áreas que se
tornaram objeto de renovada abordagem nos últimos tempos.
Produzidos ao longo de vários anos, os
artigos que compõem este volume foram, em sua maioria, publicados
de modo esparso em revistas ou coletâneas. Há, porém,
claros elementos de ligação entre eles, já
que na verdade os próprios assuntos tratados por Júlio
Castañon Guimarães sugerem diferentes agrupamentos
possíveis, em função deste ou daquele aspecto
que seja tomado como ponto de aproximação.
Em decorrência do tempo e das circunstâncias
de elaboração, numa reunião como esta podem
ocorrer tanto mudanças de perspectiva nas abordagens quanto
reiterações de elementos entre ensaios que se debruçam
sobre diferentes aspectos de um mesmo objeto. O que poderia constituir
apenas um percalço relativamente habitual nesses casos, apontando
para certa descontinuidade, pode vir a ser encarado de fato também
como uma possibilidade de trabalho em que as retomadas permitem
desenvolvimentos mais detalhados, incorporação de
novos dados ou mesmo ajustes de análise.
Alguns autores, como Augusto de Campos, Francis
Ponge e Murilo Mendes, são o objeto principal, ou pelo menos
encaminham o desenvolvimento de vários textos deste Entre
reescritas e esboços. No caso de Murilo Mendes, por exemplo,
que já foi objeto de um ensaio específico do autor,
estudam-se aqui tanto certas dimensões mais particularizadas
de sua produção quanto situações propostas
pela história da publicação de sua obra.
Nos escritos sobre correspondência –
questão que organiza um dos núcleos do volume –
abordam-se casos específicos como a de Paulo Leminski dirigida
a Regis Bonvicino, ou a de Murilo Mendes com Drummond e Lúcio
Cardoso; além disso, a correspondência é objeto
também como gênero, numa perspectiva histórica
mais abrangente, de um artigo no qual dialoga no modernismo brasileiro
com outros gêneros.
Envolvendo ainda alguns autores aqui presentes,
outros trabalhos se ocupam da relação entre visualidade
e escrita, assunto que é abordado, por exemplo, no âmbito
da poesia de Augusto de Campos, seja pelo exame de poemas que se
organizam visualmente ou que incorporam elementos visuais, seja
na consideração da dimensão visual da própria
escrita.
Ao lado de tais discussões encontra-se
um texto como o que acompanha a presença de Mallarmé
na literatura brasileira, desde fins do século XIX e ao longo
do século XX. O mapeamento desse trajeto implica uma atenção
frequente às relações com as modificações
da escrita literária; lembra assim a dimensão histórica
subjacente às questões que, entre análises
mais microscópicas e percursos mais abrangentes, se vão
entrelaçando na sucessão dos capítulos deste
livro.
Júlio Castañon Guimarães
(1951) publicou os ensaios Territórios/conjunções
(Imago, 1993), sobre a obra de Murilo Mendes, e Por que ler Manuel
Bandeira (Globo, 2008). Organizou, entre outros livros, a coletânea
de estudos Sobre Augusto de Campos, em colaboração
com Flora Süssekind (7Letras/FCRB, 2004), e a reunião
de textos de imprensa de Gonzaga Duque, Impressões de
um amador, em colaboração com Vera Lins (UFMG/FCRB,
2001), além dos volumes Prosa inédita I e II
de Manuel Bandeira (Cosac Naify, 2008 e 2009). Sua poesia está
reunida em Poemas (Cosac Naify, 2006), a que se seguiu Do
que ainda, com pinturas de Manfredo de Souzanetto (Editora Contracapa,
2009).
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