MEU CAPÍTULO NA TV GLOBO
Este livro revela um capítulo decisivo
da vida do nova-iorquino Joe Wallach, certamente o mais agitado
e emocionante de todos: sua passagem pelo Brasil, aonde chegou aos
42 anos para fazer parte da equipe que transformaria a TV Globo
numa das maiores redes de televisão do mundo. Em agosto de
1965 ele desembarcou no Rio de Janeiro com a missão de gerenciar
o acordo entre o grupo Time-Life – do qual era funcionário
– e a emissora de Roberto Marinho, inaugurada três meses
antes. Embora, no início, Joe não falasse português
e Marinho menos ainda o inglês, o entrosamento entre estes
dois homens tão diferentes se deu de imediato, e o relato
dessa amizade se confunde com a ascensão da TV Globo.
São muitas as histórias que Joe
conta pela primeira vez, sempre com graça e leveza. Merece
destaque a narrativa sobre os meandros do polêmico contrato
Globo – Time-Life, que teve sua legalidade questionada, levando
à criação, em outubro de 1965, de uma Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI), pois o artigo 160 da nossa
Constituição proibia a participação
de capital estrangeiro na gestão ou propriedade de empresas
de comunicação. Joe teve de depor durante
cinco horas no Congresso, em Brasília,
foi acusado de ser agente da CIA e recebeu telefonemas anônimos
com ameaças de morte. Em 1971, quando a Time-Life Inc., cansada
de perder dinheiro, encerrou o acordo, Wallach convenceu Marinho
a ressarcir os americanos pelos investimentos feitos, o que viria
a garantir a independência da TV Globo.
Nesse mesmo ano, já com a cidadania brasileira,
ele aceitou o convite para permanecer na casa como diretor executivo.
Até 1980, quando decidiu voltar aos Estados Unidos para ficar
mais próximo da família, Joe foi um elemento decisivo
na vida da emissora, estabelecendo a estrutura para a futura Rede
Globo de Televisão. Com emoção ele rememora
aqui algumas de suas mais fortes lembranças: as enchentes
de 1966 e 1967 que flagelaram os cariocas; os incêndios nas
instalações da TV Globo de São Paulo (1969)
e do Rio (1976) em plena ditadura; a relação do Dr.
Roberto com os militares; a produção das primeiras
telenovelas exibidas ao vivo; a ascensão e queda de Walter
Clark, levado por ele para a empresa, e o convívio com Boni,
Armando Nogueira, Borjalo, Otto Lara Resende, Nelson Rodrigues,
Daniel Filho e Roberto Irineu Marinho, entre outros que ajudaram
a solidificar a marca de sucesso da Vênus Platinada.
Joe Wallach foi um jovem de classe média
baixa que estudou em colégios públicos e precisou
trabalhar na lavanderia dos pais, numa sorveteria e numa gráfica
enquanto cursava Contabilidade numa faculdade também pública.
A Segunda Guerra Mundial interrompeu seus estudos: aos 19 anos,
ingressou no exército americano, onde ficou por três
anos e meio, dos quais 20 meses na Europa como tenente, e em janeiro
de 1945 foi ferido na Bélgica. Nessa época conheceu
em Grenoble, França, sua primeira mulher, Maryla Dytkowska,
que servia no exército polonês, com quem se casou em
Paris em 1946.
De volta aos Estados Unidos, formou-se em Administração
e trabalhou algum tempo em Nova York, mas Maryla odiou o tumulto
da grande cidade. O casal mudou-se então para Massachusetts,
depois para a Pensilvânia e, finalmente, San Diego, na Califórnia;
ali, em abril de 1960 ele começou como assistente da gerência
de uma pequena estação televisiva, associada à
NBC, onde a “Garota do Tempo” se chamava Raquel Tejada
– que anos depois se tornaria famosa como Raquel Welch. Em
1962, o grupo Time-Life comprou o Canal 10 de San Diego, e Joe foi
guindado ao posto de gerente, nova etapa de uma trajetória
que desembocaria, três anos mais tarde, na viagem para o Rio
de Janeiro.
Quando deixou a Globo, em 1980, Joe fixou residência
em Los Angeles, e lá fundou a Telemundo em 1985, voltada
para a comunidade latina. Três anos depois, se tornou consultor
da Rede Globo na Telemontecarlo, experiência da família
Marinho na Itália, e em 1990 voltou ao Brasil para participar
da criação da Globosat, que em cinco meses pôs
no ar quatro canais via satélite: Multishow, Telecine, GNT
e SporTV.
Terminado mais esse trabalho de implantação
de uma emissora, decidiu se aposentar e hoje vive em Los Angeles.
Seu passatempo preferido passou a ser, afora a leitura e as longas
caminhadas (“a máquina não pode parar”,
costuma dizer), os cursos da UCLA, principalmente os de história
universal, tanto a antiga quanto a moderna. Assim como sua segunda
mulher, Doreen, Joe Wallach adora viajar, e tem realizado longos
passeios aos mais inusitados recantos da terra. Mas, sempre que
sua agenda permite, volta ao Rio em busca dos muitos amigos que
aqui deixou, para os quais ele foi a sorte grande tirada por Roberto
Marinho quando este resolveu apostar em televisão.
FRASES SOBRE JOE WALLACH (quarta
capa do livro):
Joe Wallach, o profissional exemplar (...), o
amigo perfeito. Na história da Rede Globo e no meu coração,
ele ocupa um dos primeiros e um dos melhores lugares. — Roberto
Marinho
Além de ter sido um grande parceiro de
meu pai na construção da Rede Globo, Joe Wallach sempre
foi uma figura humana admirável. Apaixonado pelo Brasil,
acreditou que a comunicação pode ajudar no desenvolvimento
social e econômico e na consolidação da democracia
no país. Suas memórias testemunham a luta de centenas
de profissionais que apostaram na televisão e em sua capacidade
de levar informação e entretenimento à população
brasileira. Ao Joe, amigo e companheiro nessa jornada, o meu sincero
agradecimento. — Roberto Irineu Marinho
Sem o Joe Wallach teria sido impossível
fazer a Rede Globo. Ele foi o catalisador, o amálgama e o
algodão entre cristais. Sem a habilidade e a doçura
do Joe, a relação entre os profissionais e o Dr. Roberto
Marinho poderia ter se rompido. Da mesma forma os atritos entre
os diversos profissionais teriam me levado a sair da Globo se não
fosse a intervenção sempre lúcida e oportuna
do Joe Wallach. Ele nos ensinou a ter os pés no chão
e participou ativamente da modelagem de todas as áreas da
Rede Globo. Foi o meu grande parceiro. — Boni
|