O BRASIL DO NORDESTE - RIQUEZAS CULTURAIS
E DISPARIDADES SOCIAIS
Há muitas e diferenciadas formas
de ver, perceber e entender o Nordeste brasileiro, quase todas inconclusas
diante da contraditória convivência entre riquezas,
grandes potenciais irrealizados e a altíssima desigualdade
que se perpetua, atravessando diferentes gerações
e governos. Tem razão, mais uma vez, o sempre atual e insubstituível
Celso Furtado – que abre, em epígrafe, este livro –
quando diz que “o Nordeste é o espelho que reflete
a imagem do Brasil em sua mais brutal nitidez”.
Esse universo poucas vezes esteve tão
bem representado quanto no verdadeiro mergulho na realidade regional
e no excelente trabalho de pesquisa empreendidos por Patrick
Howlett Martin, de tal modo apaixonado pelo Brasil que é
quase impossível perceber onde se situa o tênue limite
a separar o fino diplomata francês da alma genuinamente brasileira.
Não se trata, como pode parecer à
primeira vista, de mais uma abordagem sociológica sobre a
região, suas heranças e seus haveres, embora cada
uma delas lá esteja em consistente perspectiva. Nem tampouco
se resume ou se circunscreve ao renitente drama da pobreza que assola
o país, sobretudo nas suas regiões mais fragilizadas.
Se não se omite perante as graves distorções
acumuladas e problemas que se renovam na contemporaneidade, esta
obra busca, da mesma forma, reconhecer as diversas experiências
bem-sucedidas das instituições públicas e da
sociedade civil na reversão da agenda negativa que preponderou
sobre a região por anos a fio, subordinando-a injustamente,
tantas vezes, à posição de mero estuário
da benemerência do Estado nacional.
Lendo com atenção diversos capítulos
desse verdadeiro compêndio sobre o Nordeste do nosso tempo,
fica claro que só depois de quase duas décadas de
mudanças – a redemocratização, a Constituinte
de 88, as reformas econômicas dos anos 90 e o adensamento
das políticas sociais a partir dos anos 2000 – é
que começamos a criar as verdadeiras condições
necessárias para um efetivo balizamento do processo de desenvolvimento
nacional, cuja variável mais importante sempre foi o Nordeste.
Nunca é demais lembrar que o importante
salto de qualidade da região resulta dos esforços
contínuos de quatro ciclos de governo, que nos legaram a
perspectiva de crescimento sustentado com uma melhor distribuição
de renda e de acesso mais amplo às políticas públicas,
aos bens econômicos e sociais. É certo que ainda falta
um longo e penoso percurso para, finalmente, terminarmos a travessia
para outro patamar de desenvolvimento. Mas a direção
e as bases fundamentais foram lançadas de forma correta.
Pelas páginas desse cuidadoso ensaio o
leitor poderá conhecer as características únicas
da vida política nordestina, ressaltando a presença
marcante de suas lideranças na nossa história recente
e um amplo painel sobre questões sociais relevantes, como
a violência, a pobreza, o turismo sexual, a prostituição
infantil e a discriminação racial, entre outras. Passamos
ainda pela paisagem incomparável do turismo, a densidade
da cultura regional e as experiências exitosas da cooperação
internacional. Na segunda parte, o livro nos lega o retrato de cada
um dos estados nordestinos e suas peculiaridades.
Gestado com uma visão generosamente ampliada,
O Brasil do Nordeste ultrapassa seu objetivo inaugural de
visitar um cenário regional de forma diferenciada, oferecendo-nos,
na verdade, a oportunidade inédita de percorrer parte importante
das raízes da formação da brasilidade, atualizando-as
para os nossos dias.
Ao dar dimensão e concretude aos desafios
com os quais se defrontam os nove estados que compõem a região,
onde vive cerca de um terço da população nacional,
o amigo e diplomata Patrick Howlett Martin nos sinaliza adiante:
não haverá um novo Brasil sem que floresça,
antes, um novo Nordeste.
Aecio Neves
Senador da República
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