O MODERNO EM QUESTÃO
Eduardo Jardim
A década de 1950 no Brasil reúne
o resultado de onze valiosas explorações da vida intelectual
no Brasil dos anos 50, feitas por estudiosos contemporâneos.
Como acentua o prefaciador, esses foram anos em movimento –
na política, na economia, nos costumes, nas instituições
– a que também reagiram os vários setores da
intelectualidade. O livro indica, primeiramente, a centralidade
dos temas do desenvolvimento e do subdesenvolvimento nas obras e
intervenções dos sociólogos, historiadores,
economistas e filósofos do período. Suas idéias
foram uma atualização de uma doutrina – o modernismo
– que ganhou forma no final do século XIX, desde os
“pioneiros das ciências sociais”, e que pretendia
indicar os rumos da modernização do país, denunciar
os obstáculos à sua realização e participar
dela por meio do debate de idéias.
Dois eixos sustentavam a argumentação
desses autores. O primeiro continha uma avaliação
da relação do projeto modernizador com certa visão
do passado da nação, em que eram destacadas a situação
colonial, a escravidão e a formação racial
heterogênea. O segundo descrevia este processo como a inclusão
do país na ordem mundial. Assim, uma série de autores
analisados nesse volume, por mais diversas que fossem suas avaliações,
partilhavam uma concepção progressista da história,
que só hoje, passados mais de 50 anos, é possível
considerar criticamente. Esse foi o caso de Luís Amaral,
Raimundo Faoro e Álvaro Vieira Pinto, dos militantes do PCB,
de José Leite Lopes, de Florestan Fernandes e de Celso Furtado,
estudados por Elide Rugai Bastos, Bernardo Ricupero e Gabriela Nunes
Ferreira, Norma Cortes, Marcelo Ridenti, André Botelho, Milton
Lahuerta, Vera Alves Cepêda e, em chave sintética,
por Gildo Marçal Brandão.
Alguns traços marcaram, de forma especial,
o debate sobre a modernização naquele momento. Ela
foi avaliada, de forma quase exclusiva, por critérios econômicos
– o que contrastava com outros momentos da mesma tradição.
Além disso, a política foi convocada como um instrumento
para apressar a modernização; daí a importância
atribuída à intervenção do Estado ou,
em outra direção, a definição de plataformas
políticas revolucionárias.
Além da menção ao debate
travado pelos cientistas sociais, no qual sobressaía o tema
do desenvolvimento, O moderno em questão aborda a
“década em movimento” sob outros aspectos: no
jornalismo, no estudo de Alzira Alves de Abreu sobre os compromissos
políticos e a “americanização”
da imprensa; nas artes plásticas, na interpretação
inovadora do surgimento do concretismo no Rio de Janeiro, por Glaucia
Villas-Bôas; nas crônicas de Nelson Rodrigues, que punham
em evidência a tensão entre dois códigos morais
conflitantes, como aponta o ensaio de Marcelo Masset Lacombe; na
visão do físico José Leite Lopes da ciência
e do ensino universitário em articulação com
o esforço desenvolvimentista, no estudo de André Botelho;
nas complexas relações dos artistas com o Partido
Comunista, na detalhada pesquisa de Marcelo Ridenti.
Ao final desta obra, o leitor terá obtido
informações da maior importância, tratadas com
rigor e profundidade, sobre essa década de virada na nossa
história contemporânea.
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