PROMENADES DO RIO
PROMENADES DO RIO – A TURISTIFICAÇÃO
DA CIDADE PELOS GUIAS DE VIAGEM DE 1873 A 1939 apresenta, inicialmente,
os primeiros guias de viagens da Europa, Estados Unidos e Brasil.
Em seguida, descreve a presença do Rio de Janeiro no mundo
oitocentista: na literatura de viagem, na paisagem, nas estampas,
nos panoramas e feiras, mostrando que a cidade já era famosa
no século 19. Na sequência, aborda a turistificação
da cidade: esta terceira parte é dividida por “atrativos”
– praças, teatros, praia, esportes – e revela
como cada um deles foi tratado nos guias. Ao final há uma
cronologia de acontecimentos turísticos e de publicação
de guias.
Inúmeras curiosidades, principalmente
em relação ao que era considerado ponto turístico,
atravessam suas 272 páginas. Por exemplo: na época,
os reservatórios de água (Silvestre, Macacos, Pedregulho,
entre outros) eram atrações para serem visitadas.
O mesmo ocorria com referência às sepulturas dos cemitérios,
cuja visitação ainda hoje é costume em capitais
como Paris, Londres e Buenos Aires. E a Avenida do Mangue, onde
agora encontramos trânsito intenso e poluição
ao longo do canal homônimo, já foi uma das mais bonitas
(e visitadas) da cidade.
O “Guia do Estrangeiro no Rio de Janeiro”,
o primeiro do gênero, lançado pela editora Garnier
em 1873, era uma pequena publicação de 56 páginas
em português, sem ilustrações. Enaltecia os
monumentos e valorizava locais como o Passeio Público, a
Praça da República, o Jardim Botânico, o jardim
da Praça da Constituição (atual Praça
Tiradentes) e o jardim da Praça Duque de Caxias (hoje Largo
do Machado).
Chama a atenção como a praia demorou
a aparecer nos guias. As mais famosas eram as do Boqueirão
do Passeio e a de Santa Luzia, por estarem situadas no Centro. Os
banhistas não ficavam na areia, mas em píeres de madeira
com equipamentos de segurança, como boias e cordas amarradas
a argolas de ferro. Nas ruas próximas, as casas de banho
ofereciam cabines para a troca de roupas, salas de relaxamento e
curistas – profissionais que iniciavam os banhistas no mar.
Nos anos 1920 e 1930, Copacabana e Ipanema ainda
contavam com banhistas profissionais, que seguravam as senhoras
pelas mãos ajudando-as a levantar e abaixar conforme o movimento
das ondas. E o carnaval – quem diria? – era citado em
pé de igualdade com outras festas populares, como a Festa
de Nossa Senhora da Penha. Já uma outra paixão do
nosso povo, o futebol (ainda sem o Maracanã), não
era considerado atração ou característica da
cidade.
No tocante à hotelaria, o grande marco
foi o Hotel Avenida, de 1908, então o maior do Brasil, na
moderna e icônica Avenida Central (hoje Rio Branco), que contava
com 220 quartos e capacidade para 500 hóspedes. Sua inauguração
está relacionada à comemoração dos 100
anos da abertura dos portos brasileiros às nações
amigas, que resultaria em uma grande exposição nacional,
na Urca.
A publicação de PROMENADES
DO RIO é resultado do processo de seleção
do II Programa de Fomento à Cultura Carioca, de 2014, da
Secretaria Municipal de Cultura.
A AUTORA
Graduada pela ESDI-UERJ, Isabella Perrotta tem mestrado em Design
pela PUC Rio e doutorado em História pela Fundação
Getúlio Vargas. Professora e pesquisadora da ESPM Rio e diretora
da Hybris Design, é, também, curadora de exposições
e autora de livros e inúmeros artigos sobre a cidade do Rio
de Janeiro.
Estuda, há muitos anos, a representação
gráfica de marcas que se valem dos principais ícones
do Rio de Janeiro para vender produtos e serviços. Grande
parte delas está relacionada ao turismo, embora nem sempre
pareça imediata a sua inteligibilidade por um estrangeiro.
“A partir desses estudos, veio a curiosidade sobre aquelas
que teriam sido as primeiras imagens a vender (ou construir) o Rio
como destino turístico. Que ícones foram eleitos?
Onde circulavam?” Com estas perguntas, formulou seu projeto
de doutorado em História, Política e Bens Culturais,
defendido em março de 2011, pelo CPDOC – Escola de
Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas.
A autora partiu do pressuposto de que a produção
do grande contingente de viajantes que passou pelo Rio de Janeiro
entre os séculos 16 e 19 – principalmente ao longo
deste último – contribuiu, ou mesmo foi responsável,
para definir o futuro caráter turístico da cidade.
Acrescentou a hipótese de que a construção
de um imaginário exótico, e sobretudo paradisíaco,
em relação à cidade não era inevitável,
e sim uma opção consciente desses estrangeiros –
assim como a incorporação desse imaginário
na formulação da identidade turística da cidade
pelos próprios nativos. Inicialmente, Isabella se aproximou
da iconografia dos artistas viajantes (exaustivamente estudados,
e publicados em vasta bibliografia). Mas acabou se deparando com
guias do Rio de Janeiro publicados para viajantes estrangeiros ainda
no século 19 e início do 20. Também percebeu
o desconhecimento sobre esses livros, até mesmo entre os
pesquisadores próximos ao tema. |