QUATRO & OUTRAS LEMBRANÇAS
de João Paulo Cunha
Este não é só
um livro de poesia. É o testemunho de uma condição,
registro de um período, tradução que só
a consciência humana é capaz de alcançar. O
autor, homem com larga experiência na ação política,
não havia, até hoje, trazido a público seu
talento poético. Talvez porque sua atividade pública
tenha sido sempre maior e mais importante, como em qualquer profissão,
do que a urgência poética, ou aquela vaidade que pode
fazer muitos não poetas desejarem publicar seus escritos
apressadamente.
Mas João Paulo Cunha
é também poeta, assim como tantos médicos,
engenheiros, cientistas ou políticos foram poetas por um
instante. Afinal, a ação política, como qualquer
trabalho, também é um meio da poesia, um habitat.
Se o autor não fosse tão amplamente conhecido por
sua atividade partidária, tendo alcançado o terceiro
maior cargo da hierarquia brasileira – e sido, depois do presidente
da República e do seu vice, o primeiro nome do poder –,
esses poemas, provavelmente, não seriam lidos sob uma ótica
tão específica, sob um olhar crítico tão
rigoroso ou investigativo. O que será que ele diz? Revelará
o que se passou? Contará de seus pares, dos fatos? Falará
do poder, de sua perda?
Muito mais do que isso, em Quatro
& outras lembranças ele fala do seu momento mais
difícil, dos dias em que o significado de liberdade –
de que não nos lembramos quando a exercemos naturalmente
– se impôs pela ausência. Sim, ele fala, bravamente,
do cárcere. Daí este livro ser maior do que seu próprio
conteúdo. Porque seu autor, como tantos outros seres humanos
que viveram a experiência do exílio ou do encarceramento,
teve a coragem de se expor, de discorrer sobre o cotidiano na prisão,
de narrar seus sentimentos sob uma condição alheia
a tantos outros homens, de exibir seu corpo não para a primeira
pedra mas para todas as outras que não fariam mais diferença
em sua condição.
A literatura do cárcere
é farta de grandes nomes e exemplos. Talvez o maior deles,
Oscar Wilde, tenha escrito a mais triste de todas as obras, De profundis,
exatamente porque narrar tais lembranças também é
um grito de liberdade, sua revolta, seu gemido. Assim, estes poemas
de João Paulo Cunha são, mais do que uma experiência
literária para ser julgada por literatos, o registro do que
se passou no íntimo de alguém em estado extremo, despido
do poder, do direito de ir e vir, de toda e qualquer vaidade. Portanto,
este livro não é só isso: este livro é
também um homem.
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