DEFLORAIS DE BACK
SYLVIO, permita-me começar essa
orelha com um leve puxão. A gente se conhece há –
55? 56 anos? Você não devia ter escondido por tanto
tempo sua QUERMESSE, missa laica e rosada em que celebra
os prazeres da carne e o gozo maior da língua. Me responda
uma coisa: a língua tem orgasmo? Nabokov dizia que Lolita
foi o produto do seu caso de amor com a língua inglesa. E
você celebra outro grande pornopoeta, James Joyce, em “Nora’s
joys”: “aos confins do tuim/Nora e Bloom/foram aos píncaros/da
linguagem”. (Não há como escapar, no final de
Ulysses – Sim, eu disse sim, eu quero sim –,
ao ritmo envolvente da siririca na perereca de Molly: ganhei o meu
Bloomsday...).
Esse seu lado erótico, obsceno, pornográfico,
fescenino, escatológico é de causar inveja ao Divino
Marquês (“As mulheres gozam pelo ouvido”). Desmedido
donjuan, você namora – e deflora – em todas as
línguas. Vide un homme très raffiné, lady
fisting, petits fours, pokemon, blitz, blow job, malas palabras.
Na sua lúdica glossolalia, na sua coprolalia poética,
abundam trocadalhos do carilho: pickpoet, la vie en prose;
aliterações (fucking finger) e imagens do cinema
(com seus Backups, Backprojections e flashBacks):
“puro screen, duro spleen”, o título
24qps, sua vaseline grief em “Maria Schneider”;
há o toque marioandradiano em “grelos de fé/não
envelhecem jamé”.
Tendo queimado em sarça ardente na urbe
curitibana, você não esconde também a marca
dos caninos do Vampiro no pescoço: “– rebola,
puta-que-o-pariu/– seu merda, pica de anão/–
viado metido a fodão/– faz roçadinho, messalina”.
Quer mais daltônico que isso? Vai também ao velho Salomão
e vira do avesso a Cantada das Cantadas: “minha amada estoca
as pernocas – buça sebenta/meu amado ensarilha as pernas
– pica perebenta”.
Você navega no Mare Nostrum global:
“sob o suado xador /aveugles frissons”. Exercita
a brevidade do haicai (haiku, em inglês) nos punhos
de renda: “afoguei o braço/foi-se o cabaço”.
Brinca também com a sinonímia genital: cajado, jeba,
manjuba, pingolim, piroca, tarugo, vara; buça, chatte,
chumaço, perseguida, racha, xavasca, xibiu, xuxa. Sem fugir
ao ideário das epígrafes de boudoir, conciliando
Eliot (“o poeta precisa ser menos poético”) com
Blake (“Exuberância é Beleza”).
Os filósofos de plantão gostam
de citar Galeno (119-circa 216): “Post coitum omne animal
triste est, sive gallus et mulier” – Depois do sexo
todos os animais ficam tristes, menos o galo e a mulher. Não
existe tristeza na Utopia backiana, o gozo é eterno nesse
novo mundo amoroso, Xangrilá ditoso que une num jardim das
delícias os países baixos e os cumes cerebrais. Um
sexo sem tristeza e sem culpa, ao melhor estilo do nosso pai espiritual,
Henry Miller, que já líamos imberbes nas noites frias
da velha Curitiba.
SYLVIO, eu soube até que o Sumo,
em seu convescote carioca, encomendou dois exemplares autografados
de Quermesse: um, para enriquecer as estantes do “inferno”
da Biblioteca Vaticana; outro, para seu próprio prazer. (Quem
sabe ele canoniza o verso “pentelhos Capela Sistina”?)
Já eu, do meu nicho pagão, fico por aqui, mandando,
com você, esse recado às moçoilas desavisadas:
“Apesar do pansexualismo latente, somos espadas – e
a libido continua a mil...”
Um abraço do
ROBERTO MUGGIATI
FRASES SOBRE O AUTOR
Sua poesia erótica é uma coisa
singular dentro da poesia brasileira. (...) Você tem o controle
total da linguagem para suas libidinagens verbais. (...) Você
é um Aretino brasileiro, de nosso tempo.
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA
(...) que um dos melhores cineastas brasileiros/descobrisse
a poesia/numa curva dos anos 80/não era provável/mas
era possível que essa poesia fosse/de um raro erótico
explícito/mas não era provável que essa poesia
fosse boa/era provavelmente possível/embora seja provável/que
todo o impossível se possa (...).
PAULO LEMINSKI
Sylvio Back, gostoso neopoeta, neopornô.
DÉCIO PIGNATARI
São dele [Sylvio Back] alguns dos melhores
poemas eróticos de nossa literatura.
MARCELINO FREIRE
Carajooooooooooo, que libro a foder! Quedome
comovidíssimo na companhia de chicas que comungaram tal edición
e vida.
XICO SÁ
O teu "Caderno Erótico" realmente
faz o leitor perder os cadernos: é, pela combinação
de erotismo, humor, imaginação e senso estético
na composição, uma obra surpreendente e que mostra
teu talento multifacético.
MOACYR SCLIAR
És o Bocage moderno, só que
com muito mais graça e senso de humor.
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Admirável esse tipo de poesia que une
o lírico ao erótico explícito. Impressiona
que seja belo e tesudo numa mesma frase, num só momento.
MAITÊ PROENÇA
Acho que a poesia empurece qualquer palavra
– desde que ela seja tratada por um poeta! E isso você
faz, ó Sylvio Back.
MANOEL DE BARROS
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