Tuma Jr. conta como ministros do STF foram
grampeados; Gilmar Mendes não foi o único
Por Pedro Canário
Gilmar Mendes não foi o único ministro do Supremo
Tribunal Federal que teve escutas instaladas em seus telefones e
no seu computador. Quando o episódio veio a público,
em 2007, as apurações da Polícia Federal não
conseguiram constatar que todos os ministros do STF estavam com
seus telefones grampeados ou com escutas ambientais instaladas em
seus computadores. E isso tudo feito por delegados da Polícia
Federal.
As informações estão no
livro Assassinato de reputações: um crime de Estado,
um depoimento do ex-delegado de classe especial da Polícia
Civil de São Paulo Romeu Tuma Jr. ao jornalista Claudio Júlio
Tognolli. O livro é uma coleção de memórias
de Tuma Jr., ex-secretário de Segurança Nacional do
Ministério da Justiça, a respeito de relações
suas e de seu pai, o senador Romeu Tuma, morto em 2010, com o governo
petista. O lançamento do livro é previsto para as
próximas semanas.
O grampo ao ministro Gilmar Mendes foi o único
que de fato chegou a vazar e ficar comprovado. Mas, já em
2008, informações a respeito de escutas feitas aos
outros juízes do Supremo rondavam as apurações
e chegaram à imprensa. Em setembro daquele ano, uma comitiva
de ministros do Supremo foi até ao gabinete do então
presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamar do uso indiscriminado
das escutas ilegais, cobrando que a Presidência da República
desse uma resposta enérgica ao que estava se tornando costume.
A primeira informação de grampo
ao ministro Gilmar Mendes foi vazada em agosto de 2007. Policiais
federais disseram que haviam interceptado uma ligação
que comprovava que o então presidente do STF havia recebido
“mimos” da construtora Gautama, investigada pela operação
navalha, da PF. As informações, à época,
eram que a Agência Brasileira de Inteligência, a Abin,
era quem estava comandando as escutas e as operações
de grampo. O episódio custou o cargo do então diretor
da Abin, Paulo Lacerda.
Mas o que Tuma Jr. contou a Tognolli é
que eram delegados e agentes da Polícia Federal que estavam
no comando das operações. Ele cita, por exemplo, Protógenes
Queiroz, então delegado e responsável por grandes
operações, e o agente Idalberto Matias de Araújo,
o Dadá. “Protógenes, Dadá e seus gansos
e agentes fizeram uso dessa maleta para grampear todos os ministros
do STF e o Lacerda pagou o pato”, resume o livro.
A carta
Tuma Jr. contou a Tognolli em seu livro que soube do grampo indiscriminado
a ministros do Supremo por meio de uma carta enviada a ele pelo
amigo Edson Oliveira, ex-diretor da Interpol no Brasil, no dia 2
de maio de 2011. Na carta, Oliveira diz que ficou sabendo do caso
sem querer, numa conversa informal com o então presidente
do Sindicato dos Policiais Federais do Rio de Janeiro, Telmo Correia,
no fim de 2008. Eles trabalhavam juntos no aeroporto Santos Dumont,
no Rio de Janeiro.
O ex-presidente do Sindicato da PF no Rio contou
que um amigo delegado da PF o procurou logo depois de a imprensa
divulgar a descoberta de escutas telefônicas no STF, que tinham
como alvo principal o ministro Gilmar Mendes. Seu amigo estava desesperado,
pois tinha a certeza de que a história chegaria a ele a qualquer
momento — e quando chegasse, não saberia o que fazer.
Edson Oliveira, então, passa a narrar
que, preocupado com o teor da revelação, foi apurar
o ocorrido. A partir de um cruzamento de dados, feito por ele e
pelo agente da PF Alexandre Fraga, segundo a carta, chegou-se a
um agente Távora, reputado como autor dos grampos aos ministros
do STF. Na época, ele trabalhava na Delegacia Fazendária
da PF no Rio. Era um policial com pouco tempo de casa, segundo Oliveira,
“mas muito experiente em análise financeira e documental”.
“Távora participou de operações
em Brasília, recebendo diárias, tendo passado vários
meses naquela cidade, convocado para participar da equipe do delegado
Protógenes [Queiroz, hoje deputado federal pelo PC do B]”,
diz a carta. “Durante o levantamento feito, ficou evidente
que a escuta realizada no STF foi feita com a utilização
de equipamentos de gravação digital sem fio, de origem
francesa, produto de um acordo feito entre o governo da França
e o do Brasil.”
Aqui cabe uma explicação, contida
no livro. Esse equipamento de grampo funciona dentro de uma maleta
com se fosse uma estação de recepção
e emissão de sinal de telefonia. Ela fica apontada à
direção de onde está o telefone que será
grampeado e a tela do equipamento mostra todos os números
naquele raio de distância.
De acordo com Tognolli e Tuma Jr. no livro, essa
“mala francesa”, como é chamada, entra no lugar
da operadora de telefonia, funcionando como uma substituta. Dessa
forma, o operador do grampo tem acesso a todas as operações
feitas com o telefone e pode controlá-las. Ele pode, por
exemplo, apagar o registro de uma ligação, ou fazer
uma ligação a partir da máquina.
Segundo o depoimento de Tuma Jr., esse equipamento
foi usado pelos arapongas da Polícia Federal no caso das
escutas no Supremo. “Não só Gilmar Mendes foi
grampeado como também todos os outros ministros do STF”,
diz o livro. O ex-delegado relata ainda que, após fazer essa
denúncia, Edson Oliveira foi alvo de perseguições
na Polícia Federal.
Leia a carta de Edson Oliveira a Romeu Tuma Jr.
no livro ASSASSINATO DE REPUTAÇÕES.
Do site CONSULTOR JURÍDICO
09/12/2013
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