ESCRITOR ALAGOANO LÊDO IVO MORRE AOS 88 ANOS VÍTIMA
DE INFARTO
O escritor alagoano Lêdo Ivo morreu às
2 horas da madrugada deste domingo (23) aos 88 anos, vítima
de um infarto, informou a ABL (Academia Brasileira de Letras), da
qual era membro. O poeta estava em Sevilha, na Espanha, a passeio
com a família. Após um jantar, ele se sentiu mal e
morreu nos braços do filho, o pintor Gonçalo Ivo,
que mora em Paris. Ivo chegou a ser levado ao hospital, mas já
teria chegado sem vida.
Segundo Domício Proença, primeiro-secretário,
Gonçalo informou que o corpo será cremado na Europa
neste domingo. As cinzas serão trazidas para o Brasil posteriormente.
A presidente da ABL, Ana Maria Machado, disse que Ivo lutava contra
um câncer de próstata havia anos, mas nunca conversaram
a respeito da doença. Antes de morrer, o poeta pedira ao
filho discrição. "Ele costumava dizer que a poesia
é uma forma de ocultar a vida pessoal em palavras",
disse Ana Maria.
A academia decretou luto de três dias e
marcou sessão reservada de homenagem ao escritor para o dia
10 de janeiro. Em março ou abril, haverá outra homenagem,
aí então pública. "Ele era um membro muito
assíduo, grande contador de casos. Tinha uma vitalidade espantosa,
falava alto, gostava de comer bem", lembrou a presidente da
ABL.
"Como poeta, ele foi um representante significativo
da chamada Geração de 45, momento em que o modernismo
brasileiro procurou voltar a formas poéticas fixas e se afastar
da linguagem coloquial. Ele dominava muito bem o artesanato do poema".
A sucessão da cadeira número 10,
que Ivo ocupava, só começará a ser debatida
depois que a vaga for anunciada oficialmente, disse Ana Maria Machado.
ESPIRITUOSO
Escritor e membro da Academia Brasileira de Letras,
Marcos Vilaça disse que "todos os acadêmicos estão
muito pesarosos" com a morte do colega, a quem classificou
de uma pessoa "muito espirituosa". Há duas semanas,
no tradicional chá da ABL, Ivo se mostrava empolgado com
a viagem para a Sevilha. "Ele estava vibrando com a viagem
que ia fazer com o filho e o neto".
Vilaça afirmou que Ivo, apesar da idade,
"tinha uma disposição impressionante" para
viajar, inclusive para lugares de altitude elevada – nos quais
o ar mais rarefeito causa mal-estar. "Ele ia para La Paz, na
Bolívia, para a Cidade do México, e dizia que não
sentia nada". Segundo Vilaça, o acadêmico era
"muito alegre e bem humorado". "Ele tinha uma acidez
cômica. Na última vez em que estivemos juntos, ele
me disse, em tom de brincadeira, que na academia a gente só
premia livro que a gente não leu, porque se fosse ler não
premiava."
HISTÓRIA
Lêdo Ivo nasceu no dia 18 de fevereiro
de 1924, em Maceió (AL). Foi casado com Maria Lêda
Sarmento de Medeiros Ivo (1923-2004), com quem teve três filhos:
Patrícia, Maria da Graça e Gonçalo. Fez os
cursos primário e secundário em Maceió. Em
1940, mudou-se para o Recife. Em 1943, transferiu-se para o Rio
de Janeiro, onde se formou na Faculdade Nacional de Direito da Universidade
do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro) em 1949.
Ivo, porém, nunca advogou.
Durante o curso, o escritor passou a trabalhar
como jornalista e a colaborar em suplementos literários de
periódicos cariocas. Em 1944, estreou na literatura com "As
Imaginações" (poesia). No ano seguinte, publicou
"Ode e Elegia", que ganhou o Prêmio Olavo Bilac,
da Academia Brasileira de Letras. Nos anos seguintes sua obra ganhou
corpo, o autor publicou diversos livros de poesia, romance, conto,
crônica e ensaios. Em 1947, seu romance de estreia "As
Alianças" recebeu o Prêmio de Romance da Fundação
Graça Aranha.
Em 1953, Ivo foi morar em Paris. No fim de 1954,
retornou ao Brasil, reiniciando suas atividades literárias
e jornalísticas. Em 1957, seu livro de crônicas "A
Cidade e os Dias" (1957) recebeu o Prêmio Carlos de Laet,
da Academia Brasileira de Letras. Além de "A Cidade
e os Dias", entre suas obras mais famosas estão "Curral
de peixe", "Plenilúnio", "Ninho de Cobras",
"Confissões de um Poeta" [as quatro editadas pela
TOPBOOKS] e o infantil "A história da tartaruga".
Lêdo Ivo foi eleito "Intelectual do
Ano de 1990", recebendo o Troféu Juca Pato do seu antecessor
nessa homenagem, o atual cardeal emérito de São Paulo,
dom Paulo Evaristo Arns.
Publicado na FOLHA DE S.PAULO
23/12/2012
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