A QUERMESSE ERÓTICA DE SYLVIO
BACK
Cineasta lança coletânea de
poemas em livraria de Ipanema
Roberto Muggiati, especial para a
Gazeta do Povo
É um luxo: Maitê Proença
lendo poemas eróticos ao seu ouvido enquanto você espera
na fila de autógrafos. Aconteceu na Livraria da Travessa
de Ipanema, na noite chuvosa de terça-feira, 15 de abril.
O cineasta-dublê-de-poeta Sylvio Back lançava sua coletânea
de poesia erótica. Diretor de 38 filmes, autor de 21 livros,
ele reuniu em Quermesse (Topbooks) a obra-título e
seus trabalhos anteriores de poesia erótica: O Caderno
Erótico de Sylvio Back (1986), A Vinha do Desejo
(1994), Boudoir (1999) e As Mulheres Gozam pelo Ouvido
(2007), título inspirado por uma frase do Marquês de
Sade.
Conheço Sylvio desde 1958, eu na Gazeta
do Povo, ele no Diário do Paraná, quando
os jornalistas de Curitiba, depois de fecharem mais uma edição,
se encontravam nos bares – obviamente para beber – mas
principalmente para discutir ideias e mudar o mundo. Sylvio editava
uma página de cultura (a Letras&Artes, agosto 59-março
61), da qual eu participava com frequência. Diz ele de seus
colaboradores: “Todos indisfarçáveis candidatos
a escritor, poeta, críticos de literatura, cinema e teatro,
advogado, político, músico, sindicalista e, sem nenhuma
coincidência, a cineasta...”. Já eu definia aquela
página como “mais artes do que letras...”
Na fila, Maitê se aproxima, me chama de
Muggiati (nos conhecemos na Manchete em meados dos 80, ela
esplendorosa como Marquesa de Santos e Dona Beija, eu editor da
revista) e lê um poema: “a mulher e seus fogos de afago/
o homem e seu pássaro falaz/ a mulher e seus gargalos letais
/o homem e seus solitários ais/ a mulher e seus mil orgasmos/
o homem e seu unívoco ocaso/ a mulher e seus líquidos
infinitos/ o homem e seu fatídico fastio/ a mulher toda em
si/ o homem tolo Sísifo.” Eu comento: “Coincidência,
é o tolo Sísifo, reli esta manhã”. E
arrisco uma graça: “É calcado no Mito de Sifu”.
E tenho de explicar: “Sifu de si fu***, sacaram?”
Afinal, por que Maitê estava lá
nessa função? Porque adora a poesia erótica
de Sylvio Back e já declarou publicamente: “Admirável
esse tipo de poesia que une o lírico ao erótico explícito.
Impressiona que seja belo e tesudo numa mesma frase, num só
momento”. Destaca o poeta e crítico Felipe Fortuna,
no prefácio do livro: “... esse afã construtivo
do poeta, que traduz o seu erotismo a partir da sua memória
cinematográfica e vai, pouco a pouco, registrando o filme
de sua vida. (...) Provém dessa projeção –
palavra-chave – para a tela, e da tela para as retinas do
poeta, a experiência pioneira do desejo e do êxtase”
.
Palmas
Com 28 anos de poesia erótica, Sylvio
colheu aplausos de luminares como Décio Pignatari (“Gostoso
neopoeta, neopornô”), Manoel de Barros (“Acho
que a poesia empurece qualquer palavra, desde que ela seja tratada
por um poeta”), Affonso Romano de Sant’anna (“Você
é um Aretino brasileiro, de nosso tempo”), Angélica
Torres (“Uau, que volúpia, mama mia!!”), Aníbal
Beça (“Tenho uma inveja cristã de seus eróticos
& pornográficos”), Marcelino Freire (“...alguns
dos melhores poemas eróticos de nossa literatura”).
Curioso, a poesia baixou de repente num Sylvio
já maduro: “Ainda que, de há muito, a minha
estante de poesia seja maior do que a de cinema, só ousei
poetar já homem maduro (aos 48 anos). Qualquer que seja a
criação do espírito humano, a poesia é
a única totalmente imprevisível”. Ele cita os
surrealistas franceses em defesa do poema erótico: “...
só dando voz ao desejo sexual é que o homem entende
o núcleo do seu ser e alcança a saúde da psique”.
Em “Nora’s Joys”, Back celebra
o grande pornopoeta James Joyce: “aos confins do tuim/ Nora
e Bloom/ foram aos píncaros da linguagem”.Embora more
no Rio há 28 anos, Sylvio não esquece a Curitiba de
sua juventude. Em noite curitibana: “Por detrás de
tuas valsas abrasas/ Por detrás de teus olores temores/ por
detrás de tuas portas abortas/ (...) por detrás de
tua consorte a morte”.
Apesar das 280 páginas orgásticas
do que chamei de “deflorais de Back” – da sua
Quermesse, essa missa laica que celebra os prazeres da carne
e o gozo maior da língua – Sylvio adverte: “Toda
essa antologia traz embutido o seguinte mote: os poemas são
libertinos, mas o poeta é casto!”
Publicado em 23 de abril de 2014 na Gazeta do Povo, Curitiba.
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