Tuma Junior revela em livro segredos sórdidos
do poder
Entre os assuntos abordados está a conta do mensalão
nas Ilhas Cayman
APARELHO CLANDESTINO - Romeu Tuma Junior: "Recebi
ordens para produzir e esquentar dossiês contra uma lista inteira
de adversários do governo" (foto: Paulo Vitale)
A Secretaria Nacional de Justiça
é um posto estratégico no organograma de poder em
Brasília. Os arquivos do órgão guardam informações
confidenciais de outros países, listas de contas bancárias
de investigados e documentos protegidos por rigorosos acordos internacionais.
Cercado por poderosos interesses, esse universo de informações
confere ao seu controlador acesso aos mais restritos gabinetes de
ministros e a responsabilidade sobre assuntos caros ao próprio
presidente da República. Durante três anos, o delegado
de polícia Romeu Tuma Junior conviveu diariamente com as
pressões de comandar essa estrutura, cuja mais delicada tarefa
era coordenar as equipes para rastrear e recuperar no exterior dinheiro
desviado por políticos e empresários corruptos. Pela
natureza de suas atividades, Tuma ouviu confidências e teve
contato com alguns dos segredos mais bem guardados do país,
mas também experimentou um outro lado do poder — um
lado sem escrúpulos, sem lei, no qual o governo é
usado para proteger os amigos e triturar aqueles que são
considerados inimigos. Entre 2007 e 2010, período em que
comandou a secretaria, o delegado testemunhou o funcionamento desse
aparelho clandestino que usava as engrenagens oficiais do Estado
para fustigar os adversários.
As revelações de Tuma sobre esse
lado escuro do governo estão reunidas no livro Assassinato
de Reputações — Um Crime de Estado (Topbooks;
557 páginas; 69,90 reais), que chega às livrarias
nesta semana. Idealizado inicialmente para desconstruir a campanha
de difamação de que o autor foi vítima (Tuma
foi demitido do governo sob a acusação de manter relações
com contrabandistas), o livro, escrito em parceria com o jornalista
Claudio Tognolli, professor de duas universidades em São
Paulo, pescou mais fundo das memórias do autor: “Entrevistei
Tuma Junior seis dias por semana durante dois anos. Ele queria uma
obra baseada na revelação de fatos, queria que a publicação
do livro o levasse ao Congresso para depor nas comissões,
onde ele poderia mostrar documentos que não tiveram lugar
no livro na sua inteireza”. Fica a sugestão.
O senhor diz no livro que descobriu a conta
do mensalão no exterior
Eu descobri a conta do mensalão nas Ilhas
Cayman, mas o governo e a Polícia Federal não quiseram
investigar. Quando entrei no DRCI, encontrei engavetado um pedido
de cooperação internacional do governo brasileiro
às Ilhas Cayman para apurar a existência de uma conta
do José Dirceu no Caribe. Nesse pedido, o governo solicitava
informações sobre a conta não para investigar
o mensalão, mas para provar que o Dirceu tinha sido vítima
de calúnia, porque a VEJA tinha publicado uma lista do Daniel
Dantas com contas dos petistas no exterior. O que o governo não
esperava é que Cayman respondesse confirmando a possibilidade
de existência da conta. Quer dizer: a autoridade de Cayman
fala que está disposta a cooperar e aí o governo brasileiro
recua? É um absurdo.
Revista VEJA
07/12/2013
Leia Mais:
VEJA
/ Blog de Reinaldo Azevedo
O
reino da Dinamarca está podre, mas fica longe
Tuma
Jr. conta como ministros do STF foram grampeados; Gilmar Mendes
não foi o único
Assustada
com o livro-bomba, a seita tenta desqualificar o delegado que Lula
sempre achou ‘muito respeitado’
|