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A LANTERNA NA POPA E A PREGAÇÃO NO DESERTO

Jefferson Viana*

Mato-grossense radicado no Rio de Janeiro, Roberto Campos fez história. Seja como parlamentar, como diplomata, como ministro ou como professor, Campos marcou época por defender de forma tenaz o liberalismo no auge do momento descritível como “dirigismo estatal”. E em sua obra A Lanterna na Popa (TOPBOOKS) ilustra boa parte de sua história política e os dilemas que enfrentou.

Ao longo de suas 1.460 páginas, Roberto Campos relata suas origens, de filho de professor e mãe costureira, nascido em Mato Grosso, no início do século XX. Campos no início do livro descreve a sua passagem por seminários em Minas Gerais, onde o ensino da lógica escolástica permitiu que desenvolvesse a disciplina do raciocínio e do estudo, que se tornou, para ele que não tinha “pistolão”, arma decisiva de aprovação no concurso do Itamaraty. Relembra os passos de sua carreira de funcionário diplomático, nos anos 1940, nos Estados Unidos, onde teve a oportunidade de assistir à montagem do FMI, do Banco Mundial e da ONU. De forma detalhada, descreve suas atividades de dirigente de importantes agências governamentais de gestão econômica no Brasil, nos anos 1950 e 1960, tais como o BNDES e o Ministério do Planejamento do governo Castello Branco, passando pelos Planos de Metas de Juscelino Kubitschek. Descreve ainda sua atuação como político parlamentar, a partir dos anos 1980, como Senador e como Deputado Federal.

Através de suas memórias escritas é possível acompanhar a circulação das elites brasileiras por vários espaços sociais, como as agências internacionais, os organismos do governo, o mundo financeiro e empresarial, ou os meios acadêmicos. É possível também estimar o peso de certos trunfos para a alavancagem de uma trajetória como a sua na alta função pública: o desempenho escolar, permitindo a superação da origem de classe modesta e o ingresso na carreira diplomática; os estudos econômicos, garantindo a qualificação estratégica para o momento do pós-guerra; o “capital” técnico e social, acumulado em organismos econômicos internacionais e em reuniões, como Bretton Woods, por exemplo, onde trocou conhecimento com Eugênio Gudin e Otávio Gouveia de Bulhões, figuras de elite que foram decisivas em sua carreira, abrindo-lhe caminhos para o acesso às agências de gestão econômica no Brasil.

Na verdade, a história de vida de Roberto Campos deve ser vista dentro do contexto histórico mais amplo de constituição do chamado “Estado desenvolvimentista” e de formação de novas elites políticas no país, aquelas encarregadas da direção dos novos órgãos governamentais criados para a regulação e intervenção econômica. Ele fez parte das primeiras gerações de “técnicos” (denominação dada, nos anos 1940 e 1950, aos profissionais que depois serão conhecidos como “economistas”). Essas gerações eram constituídas predominantemente de engenheiros (como Gudin e Simonsen), ligados a empresas de construção de obras públicas, que participaram de numerosos conselhos técnicos e comissões econômicas do primeiro governo Vargas; e ainda de advogados e/ou altos funcionários governamentais (como Otávio Gouveia de Bulhões, Celso Furtado, Rômulo Almeida e o próprio Campos). Interessando-se pelos assuntos econômicos por razões de ofício (“mais por resignação do que por vocação”, como Campos dizia), esses homens se tornaram economistas, estudando como autodidatas ou em programas de pós-graduação no exterior, como foi seu caso, ao frequentar os cursos noturnos da Universidade George Washington e depois os da Columbia University, em Nova York.

Assim como Celso Furtado, para quem o contato com as teorias keynesianas em Cambridge e o trabalho na Cepal foram passos decisivos de carreira, a “vivência no exterior”, a passagem pelos organismos internacionais e os cursos de economia foram também decisivos na carreira de Roberto Campos. Permitiram-lhe sair da condição de “padreco, filho da costureira” e “patinho feio” do Itamaraty e alcançar a posição de membro destacado da elite dirigente.

Além disso, através da construção de suas memórias, o autor pretende gerar também o reconhecimento de si próprio. Vale a pena transcrever, por sua expressividade, como ele apresenta fatos simples da vida pessoal – ano e mês de nascimento – de forma construída, isto é, relacionada à interpretação de grandes acontecimentos históricos e tomada de sentido pelas palavras do autor ao final do livro: “Nasci num annus terribilis e num mês cruel. O ano foi 1917, em plena I Guerra Mundial, poucos meses antes da revolução comunista de outubro, o mais sangrento experimento de engenharia social de todos os tempos (…). O mês era abril, que o poeta T. S. Eliot descreveu como” o mais cruel dos meses, misturando memória e desejo’’. Memória e desejo. Justamente o que aqui está em jogo.

*Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.

Publicado  no site do Instituto Liberal em 26 de maio de 2016

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