GUERRA DO PARAGUAI
NO OLHAR DE BACK
Livro é originário do conteúdo presente no
filme homônimo
O conto “Bate o Bumbo”, estampado
na quarta capa do livro Guerra do Brasil, do cineasta, poeta
e roteirista Sylvio Back, sobre a Guerra do Paraguai, representa
bem o tom, a abordagem e a temática presente na coletânea
de contos. Em seu miolo, as frases: (...) “Madame Lynch de
meia rendada interroga torturados de San Fernando”/ “Imperador
faz pose ao lado de paraguaio vendido como escravo”/ “Guaranis
atacam imperiais aos gritos de ‘muerte aos macacos!’”
/ “General David Canabarro é submetido à corte
marcial em Uruguaiana”/ “Aliados jogam cadáveres
coléricos no rio Paraná para envenenar civis paraguaios”/
“Sodomia no exército brasileiro vira moeda de troca-troca”.
Para Marcelino Freire, Sylvio traz em Guerra
do Brasil - Contos da Guerra do Paraguai a mesma forma de olhar
do cineasta de Yndio do Brasil e A Guerra dos Pelados.
Freire declara que: “Em se tratando dele, não poderia
ser diferente. Ataca, sem piedade, a nossa hipocrisia. Cutuca o
nosso jeitinho retardado, displicente. Não usa de diplomacia,
usa de poesia. É, sobretudo, um livro de linguagem (febril
e bela) e maravilha! Uma vingança a cada parágrafo”.
O livro, de 155 páginas é ilustrado
por Cárcamo e reúne cinco histórias curtas,
um conto-poema e um conto-novela, neologismos criados pelo próprio
autor para definir uma narrativa que rompe com a extensão
clássica do gênero. Segundo nota introdutória
da editora Topbooks, responsável pela publicação,
Guerra do Brasil - Contos da Guerra do Paraguai – o
primeiro livro de contos a abordar o maior conflito bélico
do século XIX na América do Sul, vitimando mais de
um milhão de brasileiros, paraguaios, argentinos e uruguaios
– foi publicado em 1927, pela Livraria Globo. O título:
Um Pobre Homem, obra de estreia de Dyonelio Machado, da qual
faziam parte os contos "Execução" e "Noite
no Acampamento".
Com quase 20 páginas, ele narra a tragédia
dos últimos dias em Cerro Corá do ditador Solano López,
morto pelas tropas do general Câmara, com os soldados protagonizando
cenas de horror. Uma década depois, Getúlio Vargas
mandou apreender o livro, e em 1995, 70 anos após a publicação
original, a editora paulista Ática comemorava o centenário
do escritor reeditando Um Pobre Homem sem o conto "Noite
no Acampamento". Além deste livro, há A Guerra
de Lopez, do cearense Gustavo Barroso, original de 1928.
A Guerra do Paraguai (1864 a 1970) foi contada
pela primeira vez na literatura através do romance A Solidão
Segundo Solano López, de Carlos de Oliveira Gomes, na
qual, segundo a crítica e mídia da época, faz
uma defesa da atuação de Duque de Caxias. De lá
pra cá, diversos autores se detiveram sobre o tema, com perspectivas
morais díspares, em uma forma de apresentação
de acontecimentos e de personagens na qual os heróis e os
vilões se confundem e a verdade e a mentira se imbricam.
A coletânea de contos de Sylvio Back marca
a estreia do autor no gênero. É fruto de quatro anos
de pesquisas e de acidentadas filmagens no Paraguai durante a ditadura
Stroessner, que desembocaram no documentário de longa-metragem
sob o mesmo título, lançado em 1987. A editora carioca
entende a obra como, "a exemplo do próprio filme, um
memorial histórico, irônico e afetivo, frequentemente
autobiográfico, sobre o amplo universo mítico da Guerra
do Paraguai, talvez uma das últimas exorcizações
da nacionalidade que ainda precisavam ser feitas para explicar os
contornos anímicos do Brasil".
CORREIO DO POVO
Porto Alegre
24/01/2011
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