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UMA RESPOSTA A FRANCISCO BOSCO

A primeira resenha escrita a propósito do meu novo livro, SOBRE O RELATIVISMO PÓS-MODERNO E A FANTASIA FASCISTA DA ESQUERDA IDENTITÁRIA, foi publicada neste fim de semana na revista “Época”, assinada por Francisco Bosco. Como conheço Francisco e sei o que ele pensa, sabia que a resenha reconheceria alguns méritos do autor, mas rechaçaria muitas coisas do livro – precisamente, as que ferem posições defendidas pelo próprio Bosco em seu livro sobre o mesmo assunto. Na verdade (e no fundo), Bosco é uma espécie de identitário moderado que acredita poder salvar identitários extremistas, trazendo-os um dia ao aprisco da moderação. Me lembra, nesta postura, alguns antigos militantes do Partidão, mas me sugere, principalmente, aquela coisa do “ar de moço bom” da canção de Roberto Carlos. Aqui, somos bem diferentes.

Mas, além de fazer sua defesa de expedientes fascistas como “lugar de fala”, Bosco reage contra um certo desdém com que trato Michel Foucault. Entendo. Foucault, para Bosco, é um centro gravitacional. É “estrutural” para a armação do pensamento dele. Para mim, não. Assim, o fato de eu ter passado ao largo de qualquer discussão de Foucault faz ele protestar, acusando-me de uma falta de “aprofundamento teórico” e de “zelo conceitual”. Do meu ponto de vista, a questão era outra: como não estava escrevendo nenhuma tese acadêmica, não perdi tempo com Foucault, indo direto ao que me interessava. Mas, enfim, se é isto o que Bosco deseja, vamos ao assunto. Escrevi no meu ensaio que não tinha nada a ver com o eruditíssimo papo furado das epistemes, nem com a teoria do poder adotada pelo filósofo francês. A seguir, explico (mas repetindo que jamais perderia tempo com esses dois tópicos em meu novo livro). Vamos lá:

1. AS “EPISTEMES”

Foucault estabelece uma sequência de horizontes epistêmicos em “As Palavras e as Coisas”. Cada episteme como que circunscreve um horizonte intelectual compulsório, determinando o que a mente humana poderia investigar em seu âmbito. Para ele, a episteme impositiva, no século XVIII, não incluiria a história. Pois muito bem. Naquela época em que, segundo Foucault, não seria possível haver reflexões sobre a história, o barockmensch italiano Giambattista Vico, mestre de Michelet, foi o marco inaugural da antropologia da história, cujo pulsar mais longínquo podemos detectar na intuição do velho Heródoto. Não se trata de um argumento cronológico complacente, mas de uma questão intelectual objetiva, inscrita no céu da história das ideias ocidentais. Vico não só veio antes de Michelet e Marx. Ele sobretudo assentou, em lances arrojados e rasgos muitas vezes ofuscantes, as bases de um novo saber. Suas preocupações com a história e a vida social deixam à mostra, por isso mesmo, a vulnerabilidade da concepção monolítica de “episteme clássica”, tão elegantemente delineada por Foucault. Se Foucault tivesse se dado ao trabalho de cruzar a fronteira francesa, para chegar à Itália setecentista, não teria escrito o que escreveu.

2. A TEORIA DO PODER

De uma parte, a teoria do poder de Foucault não traz novidade alguma. De outra parte, a novidade que traz é absurdamente cega. Me explico. Foucault fala de uma onipresença do poder, divisa o poder atravessando todas as relações sociais e interpessoais. Isso não é nenhuma novidade. Max Weber já apontava para esta realidade, assim como alguns sociólogos e analistas políticos contemporâneos. Não tenho certeza agora, mas acho que isso já aparece nos escritos de “Economia e Sociedade”, de Weber. De outra parte, como disse, a “novidade” de Foucault é cega em consequência do fato de ele tudo definir em termos de relação de dominação. É uma obsessão total com a dominação, que se manifestaria em todos os tipos de relacionamento, em cada uma das esquinas do mundo. Por esse caminho, Foucault não só chega à fantasia paranoide total da “sociedade carcerária” (me lembro de um “seminário” de que participei, durante meu mestrado em antropologia: um mestrando, não me lembro se sob o signo de “Vigiar e Punir” ou de “Microfísica do Poder”, tratava a universidade como se ela fosse um presídio; perguntei então a ele: se assim é, por que você não cancela sua matrícula aqui e vai passar uma boa temporada na penitenciária Lemos de Brito?). É pior: ao ver relações de dominações no universo inteiro, Foucault acaba dissolvendo a distinção entre sociedades livres e sociedades não livres. Ou seja: em princípio, no plano de sua leitura, não há diferença entre a Rússia stalinista e a socialdemocracia sueca! Foucault fala mesmo de uma “tessitura carcerária da sociedade”. E ele mesmo minimiza qualquer diferença entre democracia e ditadura, numa entrevista que deu a K. S. Karol, ali pelo final da década de 1970. Ora, não tenho tempo a perder com isso.

Quanto aos temas propriamente identitários, não vou repetir aqui, em resposta a Bosco, o que acabei de escrever em SOBRE O RELATIVISMO PÓS-MODERNO E A FANTASIA FASCISTA DA ESQUERDA IDENTITÁRIA. Repito outra coisa – trecho de entrevista que acabei de dar ao jornalista Luciano Trigo, que me perguntou se eu não tinha medo de virar alvo de linchamento de milícias identitárias:

“Não vou parar de pensar, nem de dizer o que penso. No meu doce exílio na Ilha de Itaparica, sob os signos de José de Anchieta e do meu amigo João Ubaldo Ribeiro, montei uma plataforma de lançamento de mísseis político-culturais. E não vou parar de lançá-los. Esta é, na verdade, minha principal diferença com meu amigo Francisco Bosco, autor de “A Vítima Tem Sempre Razão?”. Bosco, no fundo, tem um pé plantado fundo no identitarismo. Parece mesmo acreditar na legitimidade intelectual e política do binarismo maniqueísta. Quer convencer identitários e trazê-los a outro aprisco, num horizonte mais moderado. É uma coisa de aparar arestas e promover a conciliação. Não acredito nisso. Não acredito que seja possível reconverter fanático. E não escrevo com essa intenção. Eles são irrecuperáveis. Logo, vou para a guerra. Não escrevo para eles, mas para o conjunto da sociedade, que é onde eles podem ser derrotados”.

 

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