A PROPÓSITO
DE JOSÉ OLYMPIO
Aristóteles Drummond
José Olympio – O
editor e sua Casa é a biografia do momento
– pesquisa de autoria de José Mario Pereira,
editor da Topbooks –, que acaba de ser lançada
pela Sextante, dos netos do livreiro. Realmente, os
editores daquela geração foram peças
fundamentais para que a literatura no Brasil se desenvolvesse
e chegasse a esse estágio, que é comparável
a qualquer país do primeiro mundo.
Quando comecei no jornalismo, há
45 anos, o que existia de intelectual na vida nacional
era oriundo de José Olympio, de Augusto Frederico
Schmidt – mais conhecido como poeta. Criador da
OPA, amigo de JK e empresário de vanguarda, mas
que foi também editor de grande importância
nos anos 30, Henrique Pongetti, nome que anda meio esquecido,
foi outro que facilitou a carreira de muita gente boa.
Mais para cá, Alfredo Machado, Enio Silveira
e o genial e polivalente Carlos Lacerda, que revolucionou
o mercado com a Nova Fronteira. Em José Olympio,
ocorre o fato admirável de ter tido em seu filho,
Geraldo, um continuador e lutador e, agora, os netos
Marcos e Tomás. Coisa comum no velho mundo, mas
rara entre nós, em que as empresas têm
vida curta.
No trabalho belíssimo, com
edição apurada, está a própria
história da literatura brasileira do século
passado. José Olympio editou Plínio Salgado,
Getúlio Vargas, Graciliano Ramos, Guimarães
Rosa, Portinari (no seu único livro de poemas),
Gilberto Amado – outro injustamente esquecido
que precisa ser reeditado –, Pedro Calmon e Octavio
Tarquínio, com coleções que são,
hoje, verdadeiras jóias para os que as possuem.
José Olympio privou da amizade
de Getúlio Vargas, Café Filho, JK, e quando
lançou suas ações na bolsa entre
os investidores modestos, mas ilustres, estava o presidente
Humberto Castelo Branco. Talvez, o ponto alto de seus
quase quatro mil títulos, de autores brasileiros,
esteja nos livros de memórias ou biografias.
Pedro Nava, Oliveira Lima, Gilberto Freyre, Daniel Krieger,
Juarez Távora foram alguns que tiveram seus depoimentos
editados.
Seria cansativo citar tantos autores,
mas José Olympio foi personalidade marcante na
vida do Rio de Janeiro – embora fosse paulista
de Batatais – quando sua livraria no Centro, e,
depois, em bela construção moderna em
Botafogo, era um ponto de convívio de intelectuais.
Hoje, no entanto, isso só ocorre mesmo nas reuniões
da Academia Brasileira de Letras ou nos lançamentos
de livros. A editora, ou “a Casa”, como
se referia seu proprietário, foi o mais importante
local de encontro de nossos literatos.
Infelizmente, o Brasil tem poucas
livrarias; o setor não é incentivado.
É preciso retirar o imposto do papel, liberalizar
a venda do livro para qualquer estabelecimento comercial
que o queira. Temos de ler mais, de informar mais a
nossa mocidade. E mostrar os homens de gerações
anteriores que serviram ao Brasil e à cultura
com muita dignidade e alegria.
O livro tem o mérito de ter
sido bancado pela Sextante, editora dos netos de José
Olympio, sem recorrer a nenhum tipo de incentivo fiscal
ou patrocínio. O que era para ser uma homenagem
ao avô acabou por ser um presente para os que
amam o mundo intelectual brasileiro. E foram felizes
e demonstraram grandeza ao buscarem José Mario
Pereira, notável pela sensibilidade, cultura
e facilidade em escrever (ele também editor),
para organizar o material dos arquivos da editora e
de seu proprietário, que marcaram o século
XX.
A simples leitura do livro nos leva
a concluir da urgência de tantas reedições
necessárias, desde Humberto de Campos a José
Lins do Rego, Luiz Viana Filho e outros. Temos de pensar
a cultura considerando que as grandes obras, depoimentos,
romances, são atemporais. A Livraria José
Olympio Editora vive e revive na lembrança de
seus notáveis títulos.
HOJE EM DIA
Belo Horizonte
10/08/2008
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