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VERSOS COM GALHARDIA

 

O escritor Antonio Carlos Secchin visita com frescor a tradição poética, numa soma de técnica, minúcia e humor.

 

Joselia Aguiar

 

Meio século de poesia a se completar em 2019, Antonio Carlos Secchin tem sua produção três vezes reconhecida. “Desdizer”, volume que saiu pela brasileira Topbooks com a reunião de seus versos somada a inéditos recolhidos nos últimos 15 anos, mereceu edição pela prestigiosa INCM – Imprensa Nacional Casa da Moeda, em Portugal. “Percursos da Poesia”, sua história informal da lírica brasileira publicada pela Autêntica Editora da UFMG, venceu o prêmio APCA na categoria ensaio. “O Galo Gago”, seus versos de Natal para todas as idades em edição da Rocco, ganhou o Selo 10, cátedra da Unesco de Leitura.


As distinções chegam em fase produtiva. Secchin por décadas deixou os versos virem à tona com vagar, enquanto se concentrava em preparar aulas, resenhas e ensaios. Depois de se aposentar como professor titular de literatura brasileira na UFRJ — hoje é professor emérito —, assumiu o compromisso de dedicar mais horas diárias à poesia. “Desdizer ” inclui sua produção poética desde a estreia, em 1969; é o resultado de sua dedicação mais intensa nos anos recentes, com um modo de gracejar que lhe é característico.


Um dos inéditos, “Soneto ao Molho Inglês”, surgiu a partir de frase escutada que soou como desafio: “Mamãe, quero comer um bife à milanesa”. Quem lhe disse foi o escritor Carlos Heitor Cony (1926-2018), colega seu na Academia Brasileira de Letras que lhe garantiu ter sido essa a primeira frase escrita na vida. Secchin começou a contar as sílabas e viu que se tratava tecnicamente de um verso perfeito. Fez um soneto.


“Eu me perguntava: será que ainda tenho alguma coisa a dizer como poeta?”, Secchin se recorda, no apartamento em Copabacana, onde a biblioteca de 12 mil volumes raros o distingue como um dos mais sérios bibliófilos do país. “O livro que não fiz em 15 anos, fiz em 15 semanas, em estado de obsessão”. O primeiro verso surge de modo “arbitrário e inesperado”, como a frase dita por Carlos Heitor Cony. E se for bom o primeiro verso, “que os deuses dão de graça”, é preciso “ser digno dele”, acrescenta, repetindo Paul Valéry. “Quando um poema não está resolvido, mesmo que vá a outro lugar, o poema permanece. A escrita, se não se quer fazer uma coisa anódina, nos leva a enroscar com a linguagem”.


Nas tais 15 semanas, ia à academia, a de ginástica em frente ao edifício, e não pensava em outra coisa enquanto se movimentava no aparelho chamado transport. Chegava à exaustão física – não por forçar os músculos, e sim pela procura do verso apropriado. Dormia e, no dia seguinte, na cozinha, em dez segundos, o verso aparecia. “Tinha cavado um dia inteiro, e ele emergiu”. A escolha do título revela muito de sua intenção. “Dizer é presunçoso. Redizer é redundância. Contradizer é muito simétrico”, pondera  ele.


Em “Desdizer”, Secchin visita com frescor a tradição poética, numa soma de técnica, minúcia e humor. Brinca consigo mesmo, como faz no poema “Na antessala”: “O desavisado leitor/não espere muito de mim./O máximo, que mal consigo,/ é chegar a Antonio Secchin”. Com o ofício, a exemplo de “Poema Saída”: “Sei apenas que escrever/nunca me apontou saída/Mas ainda assim é nisso/que apostei minha vida”. E com a existência, como em “Disk-morte”: “Tecle 1 para falar com Jesus Cristo/ao custo de uma ligação local”. O tom passa do levemente jocoso ao de suave afeto em versos dedicados à família e aos amigos.


As formas clássicas o desafiam, sobretudo o soneto. Segue as regras, e ao mesmo tempo burla a solenidade naquilo que diz. Como no “Soneto à Inglesa”, aquele que tomou de empréstimo a frase inesperada de Cony, com uma estrutura nobre de estrofes a serviço de teor corriqueiro, quando no entanto aborda a demanda do amor. Em “O Galo Gago”, uma história divertida de bichos se revela de densidade maior do que aparenta, outro dos recursos de Secchin: “Qual seria a cor de um céu/habitado por ninguém”.


No conjunto de poemas, grandes sentimentos discretos. “O Galo Gago” fez tanto sucesso nas redes sociais que saiu em volume próprio. Disposto a reunir parte de sua produção de ensaios sobre a lírica nacional em ordem cronológica, lançou “Percursos da Poesia Brasileira”, que abrange do século XVIII ao XXI, de Tomás Antonio Gonzaga a Chico Buarque. Em meio aos figurões, não ficam de fora figuras menos conhecidas do cânone. Ocupam vários ensaios a oposição entre a pátria e Portugal nos primeiros poetas brasileiros, a exploração do motivo marinho durante o período romântico e uma variedade de modernos — Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto, com quem teve convivência quase rotineira — e, entre os contemporâneos, encontra-se, por exemplo, Paulo Henriques Britto.


Na combinação de clareza e erudição, o volume serve como introdução para quem deseja conhecer mais sobre poesia. O exercício da bibliofilia levou Secchin a também buscar autores para além do cânone. Diz que “é possível fazer outra história da poesia brasileira” com o que encontrou perdido em cada época, autores que não entraram nos compêndios por serem vistos como menores. O que começou como curiosidade se tornou objeto de estudo. “As antologias que eu comprava citavam, por exemplo, muitos poetas simbolistas além de Cruz e Sousa, que é visto na escola como praticamente o único. Quis procurar a obra deles”.


Ângulos pouco conhecidos se revelam a partir desse olhar mais amplo. “O grande tema social no século XIX era a guerra do Paraguai, e não a escravidão, que dividia opiniões”. Na estante, há obras de pioneiras como Eugênia Câmara e Narcisa Ramália, José Bonifácio em sua faceta de poeta e Bernardo Guimarães disfarçado: com um pseudônimo, publicava poemas pornográficos. Quase anônimos como Antonio d’Oliveira, Horácio de Carvalho, Rodolfo Teófilo, Valentim Magalhães. Com o que acumulou de edições raras, histórias oficiais e bastidores os mais variados da cena literária de dois séculos atrás, promete fazer um livro novo.


Imortal despojado que mantém a elegância usando tênis, Secchin, de 66 anos, cita entre os acadêmicos mais próximos Geraldo Carneiro, Antonio Cícero e Antônio Torres. Às quintas-feiras, as sessões começam às 15h. A sua rede é ainda mais ampla quando se leva em conta sua assiduidade no Facebook, onde trata de literatura, publica poemas, seus e dos outros, e distribui generosamente curiosidades de seu acervo. “Para mim não foi tão fácil adaptar-me às novas tecnologias, sou quase contemporâneo da tipografia a vapor”, afirma. A pergunta sobre conciliar o culto à tradição com as demandas da vida contemporânea tem pronta resposta. “Em versos famosos, Drummond enunciou: ‘E como ficou chato ser moderno,/ Agora serei eterno’. O grande desafio é permanecer inescapavelmente moderno. E deixar para os pósteros a tarefa de verificar se também conseguimos — quase sempre, não — ser eternos.”

 

Publicado no jornal VALOR em 4 de janeiro de 2019.

 

 

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